Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Católicos permanecem sendo maioria


De acordo com o Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os católicos permanecem sendo maioria, embora haja uma maior diversidade religiosa da população brasileira.
Os dados mostram que 64,6% da população professa a fé católica, havendo 72,2% de presença neste credo no Nordeste, 70,1% no Sul e 60,6% no Norte do país. A proporção de católicos foi maior entre as pessoas com mais de 40 anos, chegando a 75,2% no grupo com 80 anos ou mais.
A análise mostra que outros 22,2% da população são compostos por evangélicos, 8% por pessoas que se declaram sem religião, 3% por outros credos e 2% por espíritas.
CERIS mostra “Igreja Viva”
O Censo Anual de 2010 realizado pelo Centro de Estatística e Investigações Sociais (CERIS) — entidade brasileira de pesquisa religiosa fundada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) — revelou uma “Igreja Viva”. É o que afirma a análise sociológica da evolução numérica da presença da Igreja no Brasil, feita pelo sociólogo Padre José Carlos Pereira, que também é colaborador do CERIS:
De acordo com o sociólogo, os dados apontam para o aumento do número de paróquias e para a criação de novas dioceses, mostrando uma Igreja em constante crescimento:
“Os teóricos da secularização dizem que a religião está fadada ao fracasso, mas o que vemos é o contrário, pois à medida que surge a necessidade da criação de mais paróquias e estas de serem setorizadas, ampliando, assim, o seu alcance, supõe-se que os resultados são de uma maior adesão religiosa, inclusive de pessoas afastadas”, especifica o texto.
O centro de estatísticas também apontou um crescimento considerável em relação às vocações sacerdotais e religiosas, confirmando no Brasil a tendência do aumento do número de sacerdotes diocesanos e religiosos no mundo — conforme divulgou o Setor Estatístico do Vaticano, na semana passada, ao afirmar que o número passou de 405 mil para 413 mil.
“O quadro geral mostra uma vitalidade da religião católica, por meio de um borbulhar de novas modalidades, ou novas formas de viver a fé católica, por meio das novas comunidades, novos movimentos eclesiais e da volta às origens dos ideais das primeiras comunidades cristãs, que tem refletido outro quadro estatístico, que é da evolução do número de presbíteros entre os anos de 1970 e 2010, conforme vemos na atual planilha do CERIS.Isso indica um retorno ao catolicismo dos afastados, mas também uma identificação maior daqueles que já praticavam o catolicismo, mas não se sentiam muito firmes, identificados com a doutrina católica. Sendo assim, por mais que se diga que houve aumento no número dos que se dizem sem religião, ou que cresceu o interesse e as adesões a novos grupos religiosos e a novas igrejas, a Igreja Católica se revela ainda mais estruturada e em franca expansão, com seus empreendimentos missionários como, por exemplo, os que foram propostos pela Missão Continental”, destaca a redação da análise.
Alguns números da pesquisa
Paróquias
Os dados revelam um crescimento vertiginoso no número de paróquias entre os anos de 1994 a 2010, em diversos Regionais da CNBB, com destaque para os regionais Leste 2 (de 1.263 para 1.722) e Sul 1 (de 1.651 para 2.431) , que correspondem ao Estado de Minas Gerais e Espírito Santo (Regional Leste 2) e ao Estado de São Paulo (Regional Sul 1), que são os dois maiores Regionais em número de paróquias e de contingente populacional.
Padres
Em 2000 eram 16.772 padres. Em 2010 chegou a 22.119 padres. A distribuição de padres por habitantes é outro fator levantado pela pesquisa. Em 2000 havia pouco mais de 169 milhões de habitantes e para cada sacerdote eram 10.123,97 habitantes. Dez anos depois havia aproximadamente 190 milhões de habitantes e cada padre teria o número de 8.624,97 habitantes.
A concentração do clero por regiões brasileiras, segundo a pesquisa do CERIS, mostrou que havia uma concentração maior na região sudeste em detrimento das outras regiões. Do total de padres no país a região sudeste concentrava quase metade dos sacerdotes, com 45%. O sul ficava com um quarto da população de padres, 25%, o nordeste 16%, o centro-oeste apenas 9%. Já o norte seria a região com menos padres, apenas 3%.

São Pedro e São Paulo - Ano B – 01/07/2012


Na Solenidade dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo, a liturgia convida-nos a refletir sobre estas duas figuras e a considerar o seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e de testemunho do projeto libertador de Deus.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n’O como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
A primeira leitura mostra como Deus cauciona o testemunho dos discípulos e como cuida deles quando o mundo os rejeita. Na ação de Deus em favor de Pedro – o apóstolo que é protagonista, na história que este texto dos Atos hoje nos apresenta – Lucas mostra a solicitude de Deus pela sua Igreja e pelos discípulos que testemunham no mundo a Boa Nova da salvação.
A segunda leitura apresenta-se como o “testamento” de Paulo. Numa espécie de “balanço final” da vida do apóstolo, o autor deste texto recorda a resposta generosa de Paulo ao chamamento que Jesus lhe fez e o seu compromisso total com o Evangelho. É um texto comovente e questionante, que convida os crentes de todas as épocas e lugares a percorrer o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo.

LEITURA I – At 12,1-11
Leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos
Naqueles, dias, o rei Herodes começou a maltratar alguns membros da Igreja. Mandou matar a espada Tiago, irmão de João, e, ao ver que assim agradava aos Judeus, mandou, além disto, prender também a Pedro. Era nos dias da Páscoa. Depois de preso, mandou-o meter na cadeia e entregou-o à guarda de quatro piquetes de quatro soldados cada um, na intenção de, após a Páscoa, o fazer comparecer perante o povo. Pedro era, pois, guardado na prisão, mas a Igreja orava instantemente a Deus por ele. Herodes estava para o fazer comparecer. Nessa noite, dormia Pedro entre dois soldados, ligado com duas correntes, enquanto as sentinelas, postadas à porta, guardavam a prisão. Nisto, apareceu o Anjo do Senhor, e uma luz brilhou na cela da cadeia. O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no lado, e disse-lhe: «Levanta-te depressa». E as correntes caíram-lhe das mãos. Então, o Anjo disse-lhe: «Põe o cinto e calça as sandálias». Ele assim fez. Depois, acrescentou: «Envolve-te na capa e segue-me». Pedro saiu e foi-o seguindo, sem perceber que era verdade o que estava a acontecer pela ação do Anjo; pensava que tinha uma visão. Atravessaram o primeiro posto da guarda, depois o segundo, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, e a porta abriu-se por si mesma diante deles. Saíram e avançaram por uma rua, e logo o Anjo se afastou de Pedro. Então, Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei realmente que o Senhor mandou o Seu Anjo e me libertou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo judeu».
AMBIENTE
O texto que nos é hoje proposto encerra praticamente a primeira parte do Livro dos Atos dos Apóstolos (a história da expansão do cristianismo dentro das fronteiras palestinas – cf. At 1-12). Lucas narra, neste texto, uma nova perseguição à Igreja de Jesus.
Esta perseguição é obra de Herodes Agripa I, neto do famoso Herodes, o Grande. O imperador Calígula deu-lhe, por volta do ano 37, os antigos territórios de Filipe (Itureia, Traconítide, Bataneia, Gaulanítide e Auranítide); mais tarde (ano 40), confiou-lhe ainda os antigos territórios de Herodes Antipas (Galileia e Pereia). Depois do assassínio de Calígula, Herodes Agripa prestou vários serviços ao imperador Cláudio, o qual lhe ofereceu o governo da Samaria e da Judéia (ano 41). Assim, Herodes Agripa I reinou praticamente sobre toda a Palestina entre os anos 41 e 44. Morreu subitamente no ano 44, durante uma cerimônia pública.
Herodes Agripa I preocupou-se bastante em não se incompatibilizar com os líderes judaicos. Por isso, foi muito cuidadoso em observar as prescrições da Lei de Moisés (embora essa preocupação tenha sido mais por política do que por convicção: fora do território judaico, Herodes Agripa I vivia à maneira helênica). Foi, provavelmente, com o mesmo objetivo que ele tentou suprimir a “seita cristã”, mandando executar Tiago e prendendo Pedro.
Este Tiago de que se fala no nosso texto é o filho de Zebedeu, irmão de João. Tiago era, com toda a certeza, um pregador ativo do Evangelho de Jesus e um membro importante da comunidade cristã de Jerusalém. Com esta morte violenta, Tiago “bebeu do mesmo cálice”, conforme lhe foi anunciado pelo próprio Jesus (cf. Mc 10,38). Estamos no ano 42.
Esta perseguição atingiu também outros membros da comunidade cristã de Jerusalém. O próprio Pedro foi preso, neste contexto, embora tenha sido, posteriormente, libertado. Os dados avançados por Lucas – no texto que nos é hoje proposto – sobre a prodigiosa libertação de Pedro não devem ser rigorosamente históricos; mas devem ser, sobretudo, uma catequese sobre a forma como Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que dão testemunho da salvação.
MENSAGEM
No Livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas procura mostrar como o plano salvador de Deus para os homens continua a cumprir-se, mesmo depois da partida de Jesus para junto do Pai. Os discípulos de Jesus são agora, no meio do mundo, as testemunhas desse projeto de libertação que Deus ofereceu aos homens através de Jesus Cristo.
Como é que o mundo acolhe o testemunho dos discípulos? Deus deixa as testemunhas do seu projeto de salvação entregues à sua sorte, à mercê da perseguição e da incompreensão do mundo? O texto que nos é proposto como primeira leitura procura responder a estas questões.
1. Os elementos históricos avançados por Lucas sobre a morte de Tiago e a prisão de Pedro, no contexto da perseguição contra a Igreja durante o reinado de Herodes Agripa I (vers. 1-4), mostram como o testemunho do projeto libertador de Deus no mundo gera sempre confronto com as forças da opressão e da morte. Trata-se de uma realidade que não deve deixar os discípulos surpreendidos, pois o próprio Jesus teve que percorrer o caminho da cruz (a indicação de que Pedro foi preso no dia dos Ázimos e, portanto, muito próximo do dia de Páscoa, pode sugerir uma correspondência com a Páscoa de Jesus: o caminho que Pedro está a seguir é o mesmo caminho do Mestre). Por outro lado, a oposição do mundo não pode nem deve calar o testemunho que os discípulos são chamados a dar.
2. Enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja orava por ele (vers. 5). A indicação mostra uma comunidade cristã unida, em que os crentes estão próximos e solidários, apesar da distância e das grades da prisão. Por outro lado, o fato de a libertação de Pedro acontecer enquanto a Igreja “orava instantemente a Deus por ele” mostra como Deus escuta a oração da comunidade.
3. A maravilhosa história da libertação de Pedro (vers. 6-11) mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da sua Igreja e a solicitude com que Deus cuida daqueles que dão testemunho do seu projeto de salvação no meio dos homens. O relato está construído com elementos maravilhosos e prodigiosos que não são, certamente, de caráter histórico (o aparecimento do “anjo do Senhor”, a luz que iluminou a cela da cadeia, a passagem pelos guardas sem que nenhum deles se tivesse apercebido da fuga do prisioneiro, a abertura milagrosa da porta da prisão); mas pretendem sublinhar a presença de Deus e apor no testemunho dos apóstolos o “selo de garantia” de Deus. Não há dúvida: Deus está com os apóstolos e, diante da oposição do mundo, garante a autenticidade da proposta apresentada por eles.
ATUALIZAÇÃO
• Como cenário de fundo da nossa primeira leitura, está o fato de a comunidade cristã (aqui representada por Pedro) ser uma comunidade que tem como missão dar testemunho do projeto libertador de Deus no meio dos homens. A Igreja que nasce de Jesus não é uma comunidade fechada em si própria, ou que vive apenas de olhos postos no céu à espera que Deus, de forma mágica, renove o mundo; mas é uma comunidade comprometida com a transformação do mundo, que testemunha – com palavras e com gestos concretos – os valores de Jesus, do Evangelho e do mundo novo.
• O nosso texto mostra que o anúncio da proposta de salvação que Deus faz aos homens gera sempre oposição. Essa oposição vem, especialmente, daqueles que querem perpetuar os mecanismos de exploração, de injustiça, de morte; mas também pode vir de quem está comodamente instalado na escravidão e não tem a coragem de questionar as cadeias que o prendem… Em qualquer caso, a oposição traduz-se sempre em atitudes de incompreensão, de desrespeito, ou mesmo de perseguição declarada. Uma Igreja que procura ser fiel ao mandato de Jesus e testemunhar a libertação de Deus ver-se-á sempre confrontada com esta realidade. Todos nós, discípulos de Jesus, chamados a testemunhar a vida de Deus na sociedade, no nosso local de trabalho, na nossa família, conhecemos a oposição, as calúnias, os sarcasmos, a dificuldade em que levem a sério o nosso testemunho... Tal fato não deve preocupar-nos demasiado: é a reação lógica do mundo quando se sente questionado pelos valores de Jesus. Para nós, o que é importante é afirmar, com sinceridade e verticalidade, os valores em que acreditamos.
• A história de Pedro que hoje nos é proposta garante-nos que, nos momentos de perseguição e de oposição, o nosso Deus não nos abandona. Ele será sempre uma presença reconfortante e libertadora ao nosso lado, dando-nos a coragem para continuarmos a nossa missão e para darmos testemunho dos valores do Reino. O cristão não tem medo porque sabe que Deus está com ele e que, por isso, nenhum mal lhe acontecerá.
• A nossa história sugere também a importância da união e da solidariedade da comunidade, sobretudo para com os irmãos que estão longe ou que estão em situações dramáticas de sofrimento. A oração é uma forma de manifestar essa solidariedade e a comunhão que deve unir todos os irmãos, membros da mesma família de fé.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)
Refrão: O Senhor libertou-me de todos os meus temores.
A toda a hora bendirei o Senhor,
o Seu louvor está sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor;
ouçam e alegrem-se os humildes.
Enaltecei comigo ao Senhor,
e exaltemos juntos o Seu nome.
Procurei o Senhor, e Ele atendeu-me;
libertou-me de todos os meus temores.
Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes:
vossos rostos não se hão-de cobrir de vergonha.
Este pobre clamou, o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.
O anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Provai e vede como o Senhor é bom;
feliz o homem que n’Ele se refugia.

LEITURA II – 2 Timóteo 4,6-8.17-18
Leitura da Segunda Epístola de São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Eu já estou a ser oferecido em sacrifício, e o momento da minha morte está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Daqui em diante, está-me reservada a coroa da justiça, que o Senhor, o justo Juiz, me dará no dia do juízo; e não só a mim, mas também a todos aqueles que tiverem esperado com amor a Sua manifestação. Apressa-te a vir ter comigo sem demora. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem. E eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me há-de livrar de toda a ação perversa e me levará são e salvo ao Seu Reino celeste. Glória a Ele por todo o sempre. Amém.
AMBIENTE
O Timóteo destinatário desta carta é um cristão nascido em Listra (Ásia Menor), de pai grego e de mãe judeu-cristã. A partir de certa altura, tornou-se um companheiro inseparável de Paulo; foi a ele que Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.
É muito duvidoso que seja Paulo o autor desta carta: a linguagem, o estilo e mesmo a doutrina apresentam diferenças consideráveis em relação a outras cartas paulinas; além disso, o contexto eclesial em que esta carta nos situa é mais do final do séc. I ou princípios do séc. II do que da época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta refere-se à vida de Paulo como uma vida integralmente preenchida pelo amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Estamos numa época em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… Ao recordar, desta forma, o exemplo de Paulo, o autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo por Jesus e pelo testemunho da Boa Nova libertadora que Jesus veio propor aos homens.
MENSAGEM
O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e, nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.
A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida num dom total, para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra. No final, ele sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do “Reino”).
Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do seu sangue… A referência à oferta “em libação” faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.
Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é um desafio que o autor da carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a Ele por todo o sempre. Amém”. É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.
ATUALIZAÇÃO
• Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo; interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.
• O caminho que Paulo percorreu continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena. Concordo? É este o caminho que eu me esforço por percorrer?
• Convém ter sempre presente esse dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta certeza, temos medo de quê?

ALELUIA – Mt 16,18
Aleluia. Aleluia.
Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
a as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

EVANGELHO – Mateus 16,13-19
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem as pessoas que é o Filho do Homem?» Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou um dos profetas». Jesus replicou-lhes: «E quem dizeis vós que Eu sou?» Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse-Lhe: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!». Jesus respondeu-lhe: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim Meu Pai que está nos Céus.
E Eu também te digo a ti: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja, e as forças do Inferno não levarão a melhor contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na Terra ficará ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra ficará desligado nos Céus».
AMBIENTE
O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da atual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.
O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus. Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.
É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre Si próprio. Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.
O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.
MENSAGEM
O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de caráter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de caráter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
Na primeira parte (vers. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d’Ele e acerca do que os próprios discípulos pensam.
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (vers. 16). Nestes dois títulos, resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o “Filho de Deus”. No Antigo Testamento, a expressão “Filho de Deus” é aplicada aos anjos (cf. Dt 32,8; Sal 29,1; 89,7; Job 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex 4,22; Os 11,1; Jer 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt 14,1-2; Is 1,2; 30,1.9; Jer 3,14), ao rei (cf. 2 Sm 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.
Na segunda parte (vers. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus” – vers. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”, abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses “pobres” e “simples” estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).
O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do palácio”… Ora o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).
Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de “ligar e desligar”, por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt 18,18). Provavelmente, o mais correto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o “Messias” e o “Filho de Deus”. É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).
ATUALIZAÇÃO
• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingênuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “status quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoura. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
• Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Definir Jesus dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.
• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?
• É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?
• A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contactamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?
• A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.

Fonte: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)

Papa reconhece milagre de Nhá Chica


A cidade de Baependi (MG) acordou com um telefonema muito especial na manhã desta quinta-feira, dia 28 de junho. Era o postulador da causa de beatificação da Venerável Nhá Chica, Paolo Villotta. Da Itália, ele avisava que o Papa havia autorizado a promulgação do decreto que reconhece o milagre recebido por Ana Lúcia Meirelles por intercessão de Nhá Chica e a certeza de que a mineira de São João del Rei em breve será proclamada Beata.

Em entrevista à Rádio Vaticano, Irmã Gertudres das Candeias, vice-diretora da Associação Beneficente Nhá Chica, descreveu o momento logo após receber a notícia:

— Eu estava fora de casa, hoje pela manhã, e as pessoas na rua começaram a me abraçar. Eu escutava foguetes, sinos. Quando eu cheguei em casa me disseram que foi um telefonema do postulador e a Igreja já estava cheia de gente. Então, nós começamos a agradecer, a rezar, a chorar, todos juntos na mesma alegria e emoção, disse.

Ana Lúcia Meirelles estava duplamente feliz já que a notícia do reconhecimento do seu milagre aconteceu justamente no dia de seu aniversário, comemorado dia 28 de junho.

— É uma emoção muito grande já que tudo isso acontece no dia do meu aniversário, mas principalmente pela nossa santa. Para mim, no meu coração, ela sempre foi santa, ressaltou.

O Milagre
— Eu estava péssima, com hipertensão pulmonar. Tive uma isquemia na vista, que me impossibilitou enxergar por alguns momentos. Uma isquemia transitória. Era um defeito congênito no coração que eu teria que operar por causa da hipertensão pulmonar e por causa do sangue que passava errado pelo coração. Então, a cirurgia foi marcada, mas três dias antes eu tive febre e acabei não fazendo. Isso tudo sob a proteção de Nhá Chica. Passados sete dias eu notei que eu só melhorava. Seis meses depois, por pressão dos médicos, eu voltei a fazer os exames pré-operatórios. E qual não foi minha alegria ao constatarem, por um exame transesofágico, que eu estava curada, sem hipertensão pulmonar, e que já não havia mais aquela passagem de sangue que causava a hipertensão. Estou aqui há 17 anos, completamente curada, sem problema nenhum. Tudo isso sob a benção da minha santa Nhá Chica.

Bento XVI autoriza publicação de novos decretos da Congregação das Causas dos Santos
O papa recebeu em audiência privada, nesta quinta-feira, o prefeito da Congregação das Causa dos Santos, cardeal Angelo Amato. Durante o encontro, Bento XVI autorizou a Congregação a promulgar 18 decretos.

Além do reconhecimento do milagre de Nhá Chica, também foi reconhecido o milagre do venerável Luca Passi, fundador da Congregação das Irmãs Mestres de Santa Doroteia. Em breve, as datas das beatificações de ambos devem ser divulgadas.

Martírios
O papa reconheceu os seguintes martírios:

- Dos servos de Deus Emanuele Borras Ferre, bispo auxiliar de Tarragona e Agapito Modesto, do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs e 145 companheiros mortos por motivo de ódio à Fé, na Espanha, entre 1936 e 1939.

- Do servo de Deus Giuseppe Puglisi, sacerdote diocesano, nascido em Palermo (Itália) e morto, por motivo de ódio à Fé, em 1993.

- Do servo de Deus Ermenegildo da Assunção e cinco companheiros da Ordem da Santíssima Trindade mortos por motivo de ódio à Fé, em 1936 na Espanha.

- Da serva de Deus Vitória de Jesus, religiosa do Instituto Pio Calasanziano da Divina Pastora, morta em 1937, na Espanha, por motivo de ódio à Fé.

- Do servo de Deus Devasahayam Pillai, leigo indiano morto por motivo de ódio à Fé em 1752.

Virtudes Heróicas
O papa reconheceu ainda as seguintes virtudes heróicas:

- Do servo de Deus Sisto Riario Sforza, arcebispo de Nápoles, cardeal da Santa Romana Igreja, morto em 29 de setembro de 1877.

- Do servo de Deus Fulton Sheen, arcebispo de Newport (EUA) morto em Nova Iorque em 1979.

- Do servo de Deus Álvaro del Portillo y Diez de Sollano, bispo de Vita e Prelado da Prelatura Pessoal da Santa Cruz e da Opus Dei, nascido em Madri e morto em Roma em 1994.

- Do servo de Deus Ludovico Tijssen, sacerdote diocesano, holândes, morto em Sittard (Holanda) em 1929.

- Do venerável servo de Deus Cristóvão de Santa Catarina, sacerdote, fundados da Congregação e o Hospital Jesus de Nazaré de Córdoba, morto na mesma cidade em 1690.

- Da serva de Deus Maria do Sagrado Coração (Maria Giuseppa Fitzbach), viúva, fundadora das Servas do Coração Imaculado de Maria, chamadas Irmãs do Bom Pastor de Québec, morta no Canadá em 1885.

- Da serva de Deus Maria Agelina Teresa, fundadora da Congregação das Irmãs Carmelitanas para os idosos e enfermos, nascida na Irlanda do Norte e morta nos EUA em 1984.

- Da serva de Deus Maria Margherita (Adelaide Bogner). Monja professa da Ordem das Visitações, nascida e morta na Hungria em 1933.

- Da serva de Deus Ferdinanda Riva, irmã professa do Instituto das Filhas da Caridade, nascida na Itália e morta na Índia em 1956.

Em 10 de maio, Bento XVI havia autorizado a Congregação das Causas dos Santos a promulgar o Decreto sobre o martírio do Servo de Deus Giovanni Huguet y Cardona, Sacerdote Diocesano, nascido na Espanha e morto, por motivo de ódio à Fé, na Espanha em 1936.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bispo eleito, monsenhor Eudes, dirigi carta a toda Arquidiocese de Mariana


EXPRESSÃO DE GRATIDÃO À ARQUIDIOCESE DE MARIANA

“Em tudo amar e servir” (Santo Inácio de Loyola)“O Senhor colocou-me neste mundo para os outros” (Dom Bosco)

Na véspera da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, recebi um telefone solicitando o meu comparecimento na Nunciatura Apostólica para uma conversa com o sr. Núncio apostólico, Dom Giovanni D’Aniello. Chegando à nunciatura, fui informado a respeito da minha nomeação para o ministério episcopal feita pelo Papa Bento XVI. Entreguei minha vida e o meu ministério nas mãos dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, no dia de oração pela santificação do Clero.
Manifesto ao Papa Bento XVI minha admiração, meu apreço e minha gratidão pela confiança em mim depositada para ser Bispo da Diocese de Leopoldina. Agradeço a Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana, pela confiança e amizade que por mim tem demonstrado ao longo destes últimos anos. Recordo saudoso do querido e sempre estimado Dom Luciano Mendes de Almeida, por quem fui ordenado diácono e presbítero. Quero esforçar-me para viver os preciosos ensinamentos deixados por ele no exercício do pastoreio e no período em que esteve à frente da Arquidiocese de Mariana. Que ele interceda por mim junto a Deus.
Aos presbíteros e diáconos da Arquidiocese de Mariana, muito obrigado pela convivência e amizade. Aprendi muito com vocês e, nesta minha nova missão, espero poder contar sempre com a ajuda, a oração e a presença fraterna de todos vocês em minha caminhada.
Aos seminaristas das casas de formação da nossa Arquidiocese (comunidade vocacional, propedêutico, filosofia e Teologia), prometo rezar sempre por vocês, para que perseverem na caminhada vocacional. Às paróquias por onde passei e onde tive a oportunidade de exercer o meu ministério sacerdotal, obrigado por tudo! Sinceros agradecimentos às Paróquias de Nossa Senhora da Conceição em Congonhas, São Gonçalo do Amarante em Catas Altas da Noruega, Nossa Senhora do Rosário em Rio Pomba e Santa Efigênia de Ouro Preto. Aprendi a ser padre com vocês. Obrigado por tudo e continuem rezando por mim.
Aos religiosos e religiosas que atuam no território da Arquidiocese de Mariana, muito obrigado pelo testemunho de consagração, de doação e serviço ao Reino de Deus. Conto com a oração de todos vocês! Agradecimento especial à família Salesiana onde dei os meus primeiros passos no discernimento vocacional rumo ao sacerdócio.
Aos meus familiares, especialmente à minha querida mãe e aos meus estimados irmãos, o meu muito obrigado pelo apoio, incentivo e presença nos diversos momentos da minha vida. Ao meu pai, que se encontra junto de Deus, peço que interceda ao Pai do céu por mim, nesta nova missão que a Igreja me confia.
A todos os irmãos e irmãs de fé, com os quais tive oportunidade de me encontrar durante o exercício do meu ministério sacerdotal nesta querida Arquidiocese de Mariana, meus sinceros agradecimentos. Rezem para que eu conforme o meu coração sempre mais ao coração de Jesus Cristo, o Bom pastor.
Mons. José Eudes Campos do Nascimento

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Padre José Eudes é nomeado Bispo


A Nunciatura Apostólica no Brasil comunica que o Santo Padre Bento XVI nomeou Bispo da vacante Diocese de Leopoldina (MG), o Revmo. Sr. Pe. José Eudes Campos do Nascimento, atualmente Pároco da Paróquia de Santa Efigênia, em Ouro Preto, e Vigário Episcopal da Região Norte da Arquidiocese de Mariana (MG).
Mons. José Eudes nasceu aos 30 de abril de 1966, em Barbacena – MG. Foi ordenado sacerdote aos 22 de abril de 1995.
Cursou o Ensino Fundamental na Escola Padre Sinfrônio – Barbacena (1973-1977); no Colégio Polivalente – Barbacena (1978-1980); no Colégio Tiradentes – Barbacena (1981-82); no Colégio Dom Bosco – Cachoeira do Campo (1983) e o Ensino Médio, em Pará de Minas (1984-1987). Fez o Curso de Filosofia no Instituto de Filosofia dos Salesianos, em São João Del Rei (1988) e no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), em Belo Horizonte (1989-1990). Cursou Teologia no Seminário Maior São José, em Mariana (1991-1994).
Em seus 17 anos de vida sacerdotal, na Arquidiocese de Mariana, desempenhou várias atividades pastorais: Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Congonhas (1995); Administrador Paroquial da Paróquia de São Gonçalo do Amarante, em Catas Altas da Noruega (1995 – 2002); Assessor Arquidiocesano da Pastoral da Juventude (1995 – 2003); Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Rio Pomba (2002 – 2009).
Atualmente, exerce as seguintes funções: Pároco da Paróquia de Santa Efigênia, em Ouro Preto; Vigário Episcopal da Região Norte da Arquidiocese de Mariana; Diretor Espiritual no Seminário Maior de Mariana; Membro do Conselho Episcopal e do Colégio dos Consultores; Representante dos Presbíteros no Conselho Presbiteral da Arquidiocese de Mariana e na Comissão Regional dos Presbíteros do Regional Leste 2 da CNBB.
A Arquidiocese de Mariana se rejubila em poder oferecer um de seus presbíteros para o ministério episcopal. Ao mesmo tempo, deseja a Mons. José Eudes um fecundo pastoreio e implora as bênçãos de Deus para a Diocese de Leopoldina no momento em que recebe a notícia da nomeação de seu novo pastor.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O gênio feminino


A família, a grande família humana e cada uma das famílias que compõem a humanidade, é o grande projeto de Deus para que o homem e a mulher tenham um sentido nobre e prático para suas vidas.
Ambos, segundo o modo de ser que lhes é próprio, o gênio feminino e o gênio masculino, colaboram na sustentabilidade e no desenvolvimento da sociedade humana, que dentro desse projeto divino é condição necessária e fundamental para que os povos vivam em paz, na justiça e na igualdade de direitos e deveres.

Considerando a mulher vê-se que ela está cada vez mais presente na vida social, levando para além dos limites do ambiente familiar a sua valiosa contribuição como pessoa que é, e sempre com suas peculiares e profundas riquezas femininas.

Tanto a família como o mundo necessitam de uma mulher real e autenticamente emancipada, respeitada, madura e competente na profissão, reconhecida no seu papel público e domiciliar, para que ela possa injetar no ambiente político, cultural, educacional, etc., uma qualidade específica do seu gênio feminino.

Com palavras de um conhecido psiquiatra austríaco, discípulo de Freud, o vienense Viktor Frankl, há na mulher – no homem também de outra forma - aquilo que ele denominou de “poder de resistência do espírito”, isto é, a tenaz capacidade de reagir diante dos grandes valores humanos, a força para voltar a erguer-se e de reempreender o esforço necessário para comportar-se a altura da sua dignidade humana.

Se é verdade que o ser feminino e o ser masculino são portadores de igual dignidade e de igual responsabilidade social e familiar, é preciso considerar que toda a sustentabilidade e desenvolvimento da grande família humana exigem que o valor total e real da mulher seja respeitado e colocado numa posição mais visível, para ser devidamente conhecido e admirado com respeito.

A mulher com sua dimensão feminina tem na sua sexualidade uma propriedade da sua pessoa, que a informa substancialmente no modo de ser e de atuar ao lado do homem, mas jamais pode ser considerada apenas como um corpo orientado somente para o sexo.

O verdadeiro papel social da mulher ao lado do homem, não é ser uma reprodutora. A mulher com sua tenacidade de espírito e com sua delicada ternura, com sua generosidade incansável e com sua agudeza de inteligência, com sua capacidade de intuição e com seu amor concreto pela outra pessoa, é a pessoa que no seu gênio feminino alicerça profundamente o projeto de Deus para a grande família.

Consideremos a Beata Irmã Dulce dos Pobres, a Beata Madre Teresa de Calcutá, tantas mães de família, outras mulheres que exercem a medicina, a política, a enfermagem, a pedagogia, etc., as meninas e as jovens que se dispõem a um trabalho de voluntariado em ambientes pobres e violentos, todas essas mulheres, conhecidas e anônimas, no celibato e no casamento, na família e no ambiente profissional e social, estão construindo um mundo melhor e mais justo, só por causa da solidez e da firmeza do seu gênio feminino.

Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro - RJ

Vaticano pede maior promoção à vocação sacerdotal



Foi apresentado na manhã desta segunda-feira, 25, no Vaticano, o Documento "Orientações pastorais para a promoção das vocações ao ministério sacerdotal".

O documento está estruturado em três partes: a primeira examina a situação atual, seja das vocações como do ministério sacerdotal nas várias partes do mundo; a segunda aborda a vocação e a identidade do sacerdócio; e a última parte, por fim, indica propostas para a pastoral das vocações sacerdotais.

O prefeito da Congregação para a Educação Católica, Cardeal Zenon Grocholewski, explica que a primeira parte do documento indica, sobretudo, três razões principais que contrastam a pastoral vocacional e que tornam evidente nas Igrejas de antiga tradição cristã no ocidente: O declínio da população e da crise da família; a difusão da mentalidade secularizada; as difíceis condições de vida e do ministério do padre.

Já na segunda parte é oferecida uma apresentação resumida e global da identidade e do ministério sacerdotal, mais concentrada no perfil teológico e espiritual do padre.

— A síntese da doutrina teológica e espiritual apresentada nestes parágrafos responde a duas exigências. Antes de tudo, a intenção é colocar em destaque as características essenciais da vocação ao sacerdócio, com referência à sintese oferecida pelo Concíclio Vaticano II e desenvolvida no Ministério pós-concílio, sobretudo na Pastores dabo vobis, explica o secretário da Congregação para a Educação Católica, Dom Jean-Louis Bruguès.

A terceira parte é a mais longa do documento e propõe uma série de indicações concretas sugeridas por todas as conferências episcopais consultadas. Na primeira frase do capítulo lê-se: “Em alguns países registra-se um vigoroso e promissor florescimento das vocações sacerdotais, que encoraja o prosseguimento no caminho da promoção vocacional”.

— É interessante confrontar a evolução das vocações ao sacerdócio ocorrida nos últimos 10 anos. Observamos o número de estudantes de filosofia e teologia, seja nas dioceses que nas congregações religiosas masculinas distribuídas nas diversas áreas geográficas, esclarece o subsecretário da Congregação para a Educação Católica, Dom Angelo Vincenzo Zani.

Na Europa, por exemplo, se constatou uma maior carência de vocações sacerdotais. Os estudantes de teologia e filosofia nos centros diocesanos em 2000 eram 26.879 e em 2010 passaram a ser 20.564.

Já na América Latina, os dados se mostram mais estáveis, mas com uma pequena elevação: Em 2010, os estudantes de teologia e filosofia nos centros diocesanos em eram 20.79, e, em 2010, passaram a ser 20.919.

Uma solicitação importante feita no documento diz respeito à Vigília do Ano da Fé que é um chamado a “propor a experiência de fé como relação pessoal e profunda com o Senhor Jesus Cristo”.

—O documento repete novamente o campo fértil para a semeação vocacional, é uma comunidade cristã que ouve a Palavra, reza com a liturgia e testemunha a caridade. Ele dirige a toda Igreja a um encorajamento, a retomar com confiança o próprio empenho educativo para o acolhimento do chamado de Deus ao ministério sacerdotal, conclui Dom Angelo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Errata sobre a 1ª Missa no Brasil


Quase todos nós ao ouvirmos falar da primeira Missa celebrada em território brasileiro imediatamente trazemos à nossa mente a imagem imortalizada pela tela de Victor Meirelles de 1860 e atualmente exposta no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.
A pintura, de estilo romântico, representa os indígenas e portugueses assistindo a uma Missa celebrada pelo Frei Henrique de Coimbra, acolitado por um outro frade, diante de uma grande cruz de madeira armada junto do altar da celebração. Por ocasião dos 512 anos da celebração da primeira missa no Brasil, essa imagem está sendo compartilhada nas redes sociais para relembrar o evento. Contudo, a tela de Meirelles retrata na verdade, a segunda Missa no Brasil, celebrada dia 1º de maio.
No dia 26 de abril de 1500, os portugueses celebraram a primeira missa no Brasil, mas na ilha da Coroa Vermelha, uma ilhota que já não existe mais. Era Domingo da Oitava de Páscoa, e a Missa foi celebrada de forma cantada, sobre um altar montada debaixo de um dossel, assistida por cerca de 1000 homens da esquadra de Pedro Álvarez Cabral. Na praia do continente, cerca de 200 indígenas acompanhavam de longe a cerimônia.

“Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.

Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.

Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.

Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias — duas ou três que lá tinham — as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé.

Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta.

***

”(Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rey Dom Manuel I de Portugal, Porto Seguro, 1º de maio de 1500).

O motivo desta celebração ter sido mais afastada foi provavelmente de que o caítão não se sentia seguro de mandar celebtrar a liturgia no continente por ainda não ter contatos suficientes com os nativos da terra.

Foi só na sexta-feira, 1º de maio, que o Frei Henrique de Coimbra celebrou Missa solene diante da cruz de madeira plantada na terra da praia de Porto Seguro, a qual assistiu toda a esquadra e uma grande quantidade de indígenas que se juntaram para observarem a cerimônia.

“E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.

Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!

Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.

Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos — um a um — ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado — era já bem uma hora depois do meio dia — viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.

E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.

Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior — com respeito ao pudor. Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer.” (Carta de Pero Vaz de Caminha)

***
Fica assim, desfeito o engano. A primeira missa no Brasil foi celebrada em um Domingo, dia 26 de abril, na ilhota da Coroa Vermelha. O que Victor Meirelles representou em seu quadro de 1860 é a primeira Missa celebrada em terras continentais do Brasil, na sexta-feira, 1º de maio de 1500. Nada disso, contudo, anula a memória deste dia, em que comemoramos a primeira Missa celebrada em terras brasileiras, onde por singular graça e sagrado privilégio, nossa Pátria nasceu sendo oferecida a Deus junto com o Santo Sacrifício de Seu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo.
Brasil: Terra de Santa Cruz!

Comissão Arquidiocesana de Liturgia lança Ofício Divino das Comunidades


“O Ofício das Comunidades é uma herança que abraça a tradição antiga da Igreja e a espiritualidade latino-americana. É uma fonte onde beberam Jesus e as primeiras comunidades cristãs, e onde buscam água, ainda hoje, muitas pessoas que gostam de orar com salmos à luz da páscoa de Jesus. É uma celebração comunitária da fé, uma liturgia. Por meio dela continuamos a oração de Jesus ao Pai, fazendo memória da sua páscoa nas horas do dia e nas horas da vida, intercedendo com Ele, por toda a humanidade, em comunhão com todos e todas que creem”.
Em algumas comunidades de nossa Arquidiocese, e em tantas outras deste imenso Brasil, nem sempre é possível a celebração da Eucaristia. A santa missa é o culto perfeito a Deus, mas na impossibilidade de celebrá-la, o Ofício Divino das Comunidades se apresenta como uma ótima oportunidade de prestarmos nosso louvor a Deus pelas maravilhas que Ele realiza em nossa vida e na vida de nossas comunidades. É uma oração acolhedora onde todos participam, cantam salmos e hinos e partilham a Palavra. Pode ser realizada em igrejas, capelas, comunidades urbanas ou rurais e até mesmo nas casas. Sua estrutura é simples e de fácil entendimento. Na Arquidiocese de Mariana, como em outras partes, muitas Paróquias têm celebrado o Ofício Divino das Comunidades, com ótima aceitação, nas novenas dos(as) santos(as) padroeiros(as), geralmente bem cedo, quando o “irmão sol” irrompe a aurora trazendo luz para a vida que nasce e renasce a cada dia.
O Ofício também pode ser utilizado em encontros, retiros, reuniões pastorais, bem como por ocasião de aniversários, bodas, exéquias e outros momentos da vida das pessoas e das comunidades que levam o Povo de Deus a se reunir em oração, como sinal de sua confiança e esperança no Deus da vida. Nas vésperas das solenidades, festas e em diversos momentos do Ano Litúrgico, recomenda-se a celebração do Ofício de Vigília como “sinal da expectativa do Reino”, que nos prepara para melhor vivermos o mistério Pascal.
O Ofício Divino das Comunidades acompanha o Tempo Litúrgico. No tempo do Advento, a feliz expectativa da espera. No Natal, celebramos a humanidade do nosso Deus. No Tempo Comum, celebramos a Páscoa do Senhor, em nossa vida, na ação do Espírito Santo. Na Quaresma, somos convidados a reviver, com Jesus, a experiência do deserto. Na Páscoa, renascemos para uma vida nova, ressuscitados com Cristo e renovados pela força do seu Espírito. São ofícios cujos cantos, salmos, hinos e leituras bíblicas nos fazem perceber a grande riqueza do Ano Litúrgico. “A Santa Mãe Igreja faz questão de celebrar, em certos dias, ao longo do ano, com religiosa recordação, a ação libertadora do seu divino Esposo” (SC 102).
Diante de tudo isso, convidamos as paróquias e comunidades para fazerem esta rica e bonita experiência de consagrar ao louvor de Deus todas as horas do dia e da noite. Esta oração do povo é a oração de Jesus Cristo. “Através da Igreja, Ele continua exercendo o seu sacerdócio, não somente quando se celebra a Eucaristia, mas também de outras maneiras, especialmente quando, ao recitar-se o Ofício Divino, Ele louva ao Pai e intercede pela salvação do mundo inteiro” (SC 83).
Nesse sentido, a Comissão Arquidiocesana de Liturgia, está disponibilizando para as paróquias o livro do Ofício Divino das Comunidades para o Tempo Comum, no qual se inserem as festas do Senhor, da Santa Virgem Maria, festas e memórias dos santos e santas; tendo ao final possibilidades diversas de salmos, hinos e refrãos meditativos. Por fim, o livro apresenta possibilidades de ritos diversos como: revisão de vida, acendimento do círio, oração e aspersão da água, bênção da mesa, oração do Pai Nosso ecumênico, Ritos de Comunhão diversos segundo o tempo do ofício celebrado. Posteriormente, à medida da aceitação das comunidades, faremos a publicação dos outros dois volumes: Advento/Natal – Quaresma/Páscoa.
O livro do Ofício Divino das Comunidades para o tempo comum estará disponível nos centros pastorais das regiões, a partir do mês de julho, no valor de apenas R$ 3,00. Solicitamos às paróquias para fazerem o seu pedido, o mais rápido possível, no centro pastoral de sua região. Cada paróquia poderá adquirir um kit com os cds do Ofício do Tempo Comum, disponibilizado pela Comissão Arquidiocesana de Liturgia. É importante a comunidade adquirir um bom número de livros, pois assim, mais pessoas poderão acompanhar o Ofício quando este for celebrado.
Contamos com a participação de todas as paróquias em mais este trabalho de dinamização da Palavra de Deus em nossas comunidades, à luz da celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, do Projeto Arquidiocesano de Evangelização, bem como das solicitações da última Assembleia Arquidiocesana de Pastoral.
Mariana, 22 de junho de 2012
Comissão Arquidiocesana de Liturgia

Papa lembra São João Batista, o precursor de Jesus


Milhares de fiéis reuniram-se, ao meio-dia deste domingo, 24 de junho, para ouvir o Papa recitar a Oração Mariana do Angelus, na Praça São Pedro. Bento XVI lembrou que neste domingo, 24 de junho, a Igreja celebra a solenidade de Nascimento de São João Batista.
"Com exceção à Virgem Maria, o Batista é o único santo do qual a liturgia festeja o nascimento, e o faz porque está estreitamente ligado ao mistério da Encarnação do Filho de Deus.
“Os quatro Evangelhos dão grande destaque à figura de João o Batista, como o profeta que conclui o Antigo Testamento e inaugura o Novo, indicando em Jesus de Nazaré o Messias, o Consagrado do Senhor”, completou Bento XVI.
Citando o Evangelho de São Mateus, o Papa lembrou que depois disso foi o próprio Jesus que falou de João Batista. “Ele é aquele do qual está escrito: Eis que eu envio meu mensageiro diante de ti para preparar o caminho. Em verdade eu vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o menor no reino dos céus é maior do que ele”.
Após não acreditar na gravidez tardia de Isabel, o pai de João Batista, Zacarias emudeceu até o dia da circuncisão do menino, quando disse: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo porque virás antes do Senhor para preparar os seus caminhos e para dar ao seu povo o conhecimento da salvação no perdão dos seus pecados”.
O Papa lembrou então que “tudo isso se manifestou trinta anos depois, quando João foi batizar no rio Jordão, chamando as pessoas para que se preparassem, com aquele gesto de penitência, à iminente vinda do Messias, que Deus o havia revelado durante a sua permanência no deserto da Judeia”.
E completou – “Por isso ele é chamado Batista, ou seja, aquele que batiza. Quando um dia de Nazaré chegou Jesus pedindo para ser batizado, Batista de início se negou, mas depois concordou, e viu o Espírito Santo posar sobre Jesus e ouviu a voz do Pai celestial que o proclamava seu filho. Mas a sua missão não estava ainda completa. João foi decapitado no calabouço do rei Erodes, e assim o testemunho do Cordeiro de Deus ficou completo, aquele que Batista havia antes de todos reconhecido e indicado publicamente”.
Após o Angelus, o Papa lembrou que na terça-feira, 26, fará uma visita às áreas atingidas pelos recentes terremotos no norte da Itália e pediu que toda a Igreja o acompanhe em orações.


Bento XVI recebe cardeais para aprofundar reflexão sobre desempenho da Cúria Romana
Na manhã de sábado, 23 de junho, por volta das 10h, Bento XVI manteve audiência com os chefes dos Dicastérios, na Sala Bologna.
“No contexto da situação criada após a difusão de documentos reservados da Santa Sé, o Santo Padre aprofunda suas reflexões em diálogo continuo com as pessoas que dividem com ele a responsabilidade de governar a Igreja”, disse também na manhã deste sábado o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi.
Já por volta das 18h, o Papa recebe o Arcebispo de Sidney, Dom George Pell; o Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet; o Cardeal Jean-Louis Tauran, Presidente do Pontíficio Conselho para o Diálogo Interreligioso; o Vigário Geral emérito para a Diocese de Roma, Cardeal Camillo Ruini e o Cardeal Jozef Tomko, Prefeito emérito da Congregação para a Evangelização dos Povos.
“Em razão da força da grande e variada experiência dos senhores cardeais a serviço da Igreja, não somente no âmbito romano mas também internacional, o Papa resolveu encontrá-los ainda neste sábado, para uma troca de considerações e sugestões para contribuir a reestabelecer o tão desejado clima de serenidade e de confiança no que tange os trabalhos da Cúria Romana”, finalizou Padre Lombardi.
Ainda neste contexto, o Papa nomeou neste sábado novos membros do Conselho dos Cardeais para o estudo dos problemas organizacionais e econômicos da Santa Sé. São eles: o Cardeal Polycarp Pengo, Arcebispo de Dar-es-Salaam, na Tanzânia, Cardeal Telesphore Placidus Toppo, Arcebispo de Ranchi, na Índia, e John Tong Hon, Bispo de Hong Kong.
Outra novidade é a nomeação do novo Núncio Apostólico junto à União Europeia, o Arcebispo Alain Paul Lebeaupin, que até então era Núncio Apostólico no Quênia e Observador Permanente junto ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.


Papa fala em «crise moral» com consequências econômicasBento XVI recebeu empresários da agricultura e pesca da Itália
Bento XVI afirmou no dia 22 de junho, no Vaticano, que na base das atuais dificuldades econômicas há uma “crise moral”, pedindo que as “instâncias éticas” tenham primazia sobre “qualquer outra exigência”.
“É preciso levar remédio onde está a raiz da crise, favorecendo a redescoberta dos valores espirituais”, disse o Papa, numa audiência a empresários da agricultura e pesca da Itália (Coldiretti).
Falando da atividade laboral como “uma ferramenta indispensável para a convivência justa e humana”, Bento XVI falou de valores como “o respeito pela dignidade da pessoa, a busca do bem comum, a honradez e a transparência”.
Para o Papa, a Igreja Católica e a sua mensagem estão ligados à sociedade, “à economia, ao trabalho”, apelando ao respeito pelas “justas exigências do descanso e da regeneração corporal e, mais ainda, espiritual”.
“A Igreja não é nunca indiferente à qualidade de vida das pessoas nem às suas condições laborais”, precisou, frisando a necessidade de “cuidar dos seres humanos e dos contextos em que vivem e produzem, para que sejam sempre lugares humanos e humanizadores”.
Bento XVI defendeu a importância de sublinhar os “aspetos mais nobres” da pessoa: “o sentido do dever, a capacidade de partilhar e o espírito de sacrifício, a solidariedade”.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

CNBB publica mensagem sobre a Conferência das Nações Unidas Rio+20


“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) espera que, da Rio+20, brote o compromisso de construção de um ‘modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens e que supere a lógica utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a critérios éticos’” (V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e caribenho – Documento de Aparecida n474c).
Com essas palavras, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiu hoje, 19 de junho, uma mensagem sobre a Conferência Rio+20, que acontece na cidade do Rio de Janeiro (RJ), de 13 a 22 de junho.
Segundo a CNBB, todos devem assumir, com coragem e determinação, o compromisso de rever caminhos e decisões que, ao longo da história, só têm excluído e condenado os pobres à miséria e à morte.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, contribui para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.
A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009.
O objetivo da Conferência é a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.
Leia a mensagem abaixo:
Mensagem da CNBB sobre a Conferência Rio +20
“O Senhor Deus tomou o Homem e o colocou no jardim de Éden, para o cultivar e guardar” (Gn 2,15).
A Conferência das Nações Unidas Rio +20, sobre o desenvolvimento sustentável, acolhida pelo Brasil neste mês de junho, carrega consigo a irrenunciável responsabilidade de responder aos anseios e expectativas mundiais em relação à defesa e promoção de toda forma de vida, especialmente a humana, desde sua concepção até seu término natural.
A crise econômica, financeira e social por que passam as grandes potências da economia mundial, com graves consequências para as nações emergentes, emoldura a Rio +20. Considerada, por causa de sua profundidade e alcance, como uma crise de civilização, esta crise “interpela todos, pessoas e povos, a um profundo discernimento dos princípios e dos valores culturais e morais que estão na base da convivência social”. Entre suas múltiplas causas está “um liberalismo econômico sem regras e incontrolado” (Nota do Pontifício Conselho Justiça e Paz sobre o sistema financeiro).
É urgente repensar nossa relação com a natureza, que “nos precede, tendo-nos sido dada por Deus como ambiente de vida” e está à nossa disposição “não como um lixo espalhado ao acaso, mas como um dom do Criador” (Bento XVI – Caritas in Veritate, n. 48). Se, por um lado, como nos recorda o papa Bento XVI, é “lícito ao homem exercer um governo responsável sobre a natureza para guardá-la, fazê-la frutificar e cultivá-la, inclusive com formas novas e tecnologias avançadas, para que possa acolher e alimentar condignamente a população que a habita”, por outro, é preciso que “a comunidade internacional e os diversos governos saibam contrastar, de maneira eficaz, as modalidades de utilização do ambiente que sejam danosas para o mesmo” (Bento XVI – Caritas in Veritate, n. 50).
Os bispos da América Latina e Caribe, reunidos em Aparecida em 2007, já denunciavam: “com muita frequência se subordina a preservação da natureza ao desenvolvimento econômico, com danos à biodiversidade, com o esgotamento das reservas de água e de outros recursos naturais, com a contaminação do ar e a mudança climática” (V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe – Documento de Aparecida n. 66).
O cuidado com a natureza e com a vida, que nela brota e dela depende, passa pelo reconhecimento de que é dever de todos, especialmente dos dirigentes das nações, garantir a estas e às futuras gerações a casa comum – o Planeta Terra – livre de toda destruição. Essa meta só se alcançará com a subordinação do desenvolvimento econômico à justiça social, no respeito à pessoa, à natureza e aos povos. Para tanto, é necessário que todos, especialmente os dirigentes mundiais, assumam com coragem e determinação, o compromisso de rever caminhos e decisões que, ao longo da história, só têm excluído e condenado os pobres à miséria e à morte. Para a erradicação da fome e da miséria, "não se trata de diminuir o número dos convidados para o banquete da vida, mas de aumentar a comida na mesa”, como já nos alertou o Papa Paulo VI (cf. Homilia de João Paulo II em Puebla, 1979).
A Cúpula dos Povos, organizada pela sociedade civil e realizada concomitantemente à Rio +20, tem a importante tarefa de reafirmar a responsabilidade dos dirigentes das nações pelas graves consequências de uma opção equivocada, ao subjugar o desenvolvimento econômico ao domínio do mercado e do lucro, desconsiderando tanto a natureza quanto a vida e a cultura dos povos.
A Igreja no Brasil, especialmente através da Campanha da Fraternidade, tem chamado constantemente a atenção para a destruição da natureza provocada por um desenvolvimento econômico predatório, alimentado por um sistema produtivo e um estilo de vida consumista, muitas vezes, também predatórios. As consequências são, dentre outras, o desmatamento, a contaminação e escassez da água e as mudanças climáticas. Os que mais sofrem os impactos de tudo isso são os pobres e excluídos.
É imperioso que nos eduquemos para relações novas e éticas com o meio ambiente. Esta é uma meta imprescindível da Rio +20, que não deve desviar-se de sua real e concreta finalidade.
A Rio +20 indica uma resposta a essas questões com a chamada Economia verde. Se esta, em alguma medida, significa a privatização e a mercantilização dos bens naturais, como a água, os solos, o ar, as energias e a biodiversidade, então ela é eticamente inaceitável. Não podemos nos contentar com uma roupagem nova para proteger o insaciável mercado, que só tem olhos para o lucro, configurando-se como “lobo em pele de cordeiro” ao manter inalteradas as causas estruturais da crise ambiental.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB espera que, da Rio +20,  brote o compromisso  de construção de um “modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens e que supere a lógica utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a critérios éticos” (V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe – Documento de Aparecida n. 474c).
Esse compromisso deve ser assumido por todos. Os cristãos, de modo especial, movidos pela solidariedade, que gera fraternidade e comunhão, são convocados a trabalhar pela preservação do meio ambiente e a colaborar na construção de uma sociedade justa, ecologicamente sustentável.
Que Deus, o Criador de todas as coisas, se digne abençoar seus filhos e filhas nesta nobre missão de “cultivar e guardar” a terra, lugar de vida para todos (cf. Gn 2,15).
Brasília, 19 de junho de 2012.

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

Natividade de São Joao Batista


Nesta solenidade, a Palavra de Deus apresenta-nos a figura profética de João Batista. Escolhido por Deus para ser profeta, ainda antes de nascer, ele é um “dom de Deus” ao seu Povo. Sublinhando a importância de João na história da salvação, a liturgia não deixa, contudo, de mostrar que João não é “a salvação”; ele veio, apenas, dirigir o olhar dos homens para Cristo e preparar o coração dos homens para acolher “a salvação” que estava para chegar.
A primeira leitura apresenta-nos uma misteriosa figura profética, eleita por Deus desde o seio materno, a fim de ser a “luz das nações” e levar a Palavra ao coração e à vida de todos os homens. Impressiona especialmente a centralidade que Deus assume na vida do profeta: toda a missão profética brota de Deus e sustenta-se de Deus.
Na segunda leitura, Paulo fala aos judeus de Antioquia do profeta João. Na perspectiva de Paulo, a missão de João consistiu em convidar os homens a uma mudança de vida e de mentalidade, numa espécie de primeiro passo para acolher o “Reino” que Jesus veio, depois, propor. Paulo deixa claro que João não é o Messias libertador, mas sim aquele que vem preparar o coração dos homens para acolher o Messias.
O Evangelho relata o nascimento de João. Na perspectiva de Lucas, os acontecimentos ligados ao seu nascimento mostram como o profeta João é um “dom de Deus”. Começa, nessa altura, a tornar-se claro para todos que Deus está por detrás da existência de João, e que a sua missão é ser um sinal de Deus no meio dos homens.

LEITURA I – Is 49,1-6
Leitura do Livro de Isaías
Terras de Além-Mar, escutai-me; povos de longe, prestai atenção. O Senhor chamou-me desde o ventre materno, disse o meu nome desde o seio de minha mãe. Fez da minha boca uma espada afiada, abrigou-me à sombra da sua mão. Tornou-me semelhante a uma seta aguçada, guardou-me na sua aljava. E disse-me: «Tu és o meu servo, Israel, por quem manifestarei a minha glória». E eu dizia: «Cansei-me inutilmente, em vão e por nada gastei as minhas forças». Mas o meu direito está no Senhor e a minha recompensa está no meu Deus. E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe restaurar as tribos de Jacob e reconduzir os sobreviventes de Israel. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Farei de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».
AMBIENTE
No livro do Deutero-Isaías (um profeta que exerce o seu ministério na fase final do exílio, em meados do séc. VI a.C.), encontramos quatro poemas de autor desconhecido, que nos apresentam uma misteriosa figura de um “servo” de Javé. Trata-se de uma figura não identificada, que pode ser uma figura individual (como Jeremias, ou o próprio Deutero-Isaías) ou uma figura coletiva (representando, por exemplo, todos os profetas enviados por Deus ao seu Povo, ou o próprio Povo de Deus). De qualquer forma, os textos apresentam esta misteriosa figura profética como alguém a quem Deus chamou a testemunhar a Palavra. A missão desse “servo” tem caráter universal e realiza-se no sofrimento e no abandono à Palavra e aos projetos de Deus; mas o sofrimento desse “servo” não é em vão, e tem um significado expiatório e redentor. Do sofrimento que acompanha a missão do “servo”, resulta o perdão para o pecado do Povo. Deus aprecia o sacrifício do “servo”, recompensá-lo-á pela doação da vida, elevá-lo-á à vista de todos e fá-lo-á triunfar diante dos seus detratores e adversários. Embora se discuta a delimitação exata dos quatro cânticos do “servo de Javé”, podemos aceitar que os textos em questão são Is 42,1-9, 49,1-13, 50,4-11 e 52,13-53,12.
O texto que hoje nos é proposto é parte do segundo cântico do “servo de Javé”. É, portanto, essa figura misteriosa de “servo” de Deus, chamado à missão profética que aqui nos é apresentada.
MENSAGEM
O nosso texto apresenta-nos o relato da vocação do “servo de Javé”. Como acontece noutros relatos de vocação, o “servo” manifesta a convicção de que foi chamado por Deus desde “o seio materno” (vers. 1). Dessa forma, sugere-se que a vocação profética só pode ser entendida à luz da iniciativa divina que, desde o início da existência, “agarra” o homem e o destina para uma missão no mundo. A missão profética não é, portanto, uma iniciativa do homem ou o resultado dos méritos do homem, mas é algo que tem origem em Deus e que só se entende e faz sentido à luz de Deus. Esta certeza é o ponto de partida de toda a ação profética.
A missão a que o profeta é chamado por Deus tem a ver com a Palavra (vers. 2). O profeta é o homem a quem Deus elegeu, a fim de que a sua Palavra chegue aos outros homens; através dele, Deus dirige-nos as suas propostas e propõe aos homens um caminho que os leva a viver em relação com Deus. Essa Palavra de Deus que sai da boca do profeta não é palavra humana, mas Palavra de Deus; é por isso que o profeta diz que Deus tornou a sua boca como “uma espada afiada”, ou uma “uma seta penetrante”. É possível que as imagens utilizadas aludam à força da Palavra de Deus, que penetra nos corações e que não pode ser detida.
Na concretização da missão, o profeta experimentou a perseguição, a incompreensão, o fracasso (“foi em vão que me fatiguei, inutilmente gastei as minhas forças” – vers. 4ab). Significa isso que o profeta “andou a perder tempo” e que lamenta o seu empenhamento? Não; ele está consciente de que não perdeu nada, porque Deus não deixou de o proteger e de lhe dar a paga merecida (“o meu direito está nas mãos do Senhor, a minha recompensa está depositada no meu Deus” – vers. 4cd). Repare-se como o que é decisivo para o profeta é o ter cumprido, com fidelidade, a missão que Deus lhe confiou e a consciência de que Deus não o abandonou: se o profeta age em nome de Deus e tem o apoio de Deus, tudo o resto é secundário.
Qual foi a missão que foi confiada ao profeta? Fundamentalmente, reconduzir Jacob a Javé, reunir Israel a Deus (vers. 5). Provavelmente, faz-se aqui alusão à missão confiada aos vários profetas que Deus enviou ao seu Povo, que procuraram – às vezes inutilmente – reconduzir o Povo de Deus à órbita da aliança.
No entanto, a missão alarga-se e universaliza-se (vers. 6), agora que Israel se movimenta num cenário internacional (nesta fase, o Povo de Deus está exilado numa terra estrangeira). O que Deus vai realizar em favor de Israel será um acontecimento universal, visível para todas as nações. Da ação salvadora de Deus, brotará uma luz que iluminará todos os povos, que os fará descobrir Deus e aderir a Javé.
ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes elementos:
• A idéia fundamental que brota deste texto é a certeza de que é Deus quem está por detrás de toda a experiência profética… É Deus quem elege o profeta e quem lhe destina uma missão, desde o seio materno; é Deus quem coloca a sua Palavra na boca do profeta; é Deus quem protege o profeta e quem a recompensa… Seria impensável falarmos em profecia, sem falarmos de Deus. Tenho consciência desta centralidade de Deus na minha vida?
• A profecia não é uma realidade reservada a pessoas especiais, mas é uma missão que brota do meu compromisso batismal. Tenho consciência de que sou chamado a ser profeta – isto é, de que sou chamado a ser Palavra viva de Deus?
• Apesar do sofrimento, das perseguições, dos fracassos, a missão do profeta é ser “luz das nações”, para que a salvação de Deus “chegue aos confins da terra”. O meu programa de vida é, verdadeiramente, ser uma luz que ilumina o mundo e que dá esperança aos homens? Os pobres, os marginalizados, os excluídos, os humildes, os explorados, os injustiçados encontram em mim o testemunho da salvação de Deus que os liberta e que os salva?
• Para que a Palavra proclamada seja Palavra de Deus, é necessário que eu viva uma relação de comunhão e de intimidade com Deus: só nesse diálogo serei impregnado da vida de Deus, me aperceberei dos projetos de Deus e poderei anunciá-los aos homens. Vivo nesta relação próxima, dialogante, com Deus? Aquilo que transmito e proclamo são Palavras de Deus, ou são as minhas palavras, os meus esquemas, os meus interesses pessoais?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 138
Refrão: Eu Vos dou graças, Senhor,
porque maravilhosamente me criastes.
Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser:
sabeis quando me sento e quando me levanto.
De longe penetrais o meu pensamento:
Vós me vedes quando caminho e quando descanso,
Vós observais todos os meus passos.
Vós formastes as entranhas do meu corpo
e me criastes no seio de minha mãe.
Eu Vos dou graças
por me terdes feito tão maravilhosamente:
admiráveis são as vossas obras.
Vós conhecíeis já a minha alma
e nada do meu ser Vos era oculto,
quando secretamente era formado,
modelado nas profundidades da terra.

LEITURA II – Atos 13,22-26
Leitura dos Atos dos Apóstolos
Naqueles dias, Paulo falou deste modo: «Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, de quem deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará sempre a minha vontade’. Da sua descendência, como prometera, Deus fez nascer Jesus, o Salvador de Israel. João tinha proclamado, antes da sua vinda, um batismo de penitência a todo o povo de Israel. Prestes a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés’. Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus: a nós é que foi dirigida esta palavra de salvação».
AMBIENTE
No ano 46, Paulo e Barnabé deixaram a comunidade cristã de Antioquia da Síria e partiram por mar para anunciar Jesus no mundo helênico. Depois de terem passado em Chipre, desembarcaram em Perge, na costa meridional da Ásia Menor. Depois, dirigiram-se por terra para as cidades do interior e chegaram a Antioquia da Pisídia. Num sábado, “entraram na sinagoga da cidade” (At 13,14), a fim de participar na liturgia sinagogal. Convidado a falar, pelos chefes da sinagoga, Paulo aproveitou para anunciar Jesus à comunidade judaica aí reunida (cf. At 13,16-41). O texto que nos é proposto como segunda leitura é um pequeno excerto do discurso que, nesse contexto, Paulo pronunciou.
Trata-se do primeiro discurso posto por Lucas na boca de Paulo; contém alguns dos temas que estarão presentes de agora em diante, na sua pregação aos pagãos.
MENSAGEM
O discurso posto por Lucas na boca de Paulo consta, sobretudo, de reflexões sobre o Antigo Testamento. Faz uma rápida síntese da “história da salvação”, indicando alguns dos seus fios condutores, para mostrar que tudo converge para Jesus e que tudo culmina em Jesus.
É neste contexto que nos aparece a referência a João Baptista. Ele é apresentado como aquele que veio preparar a vinda de Jesus, propondo um batismo de conversão (a expressão grega “batisma metanoías” faz alusão a uma transformação radical das mentalidades, a fim de que a proposta do “Reino” trazida por Jesus possa encontrar acolhimento no coração e na vida de todos os homens) a todo o povo de Israel (vers. 24). João Baptista não é o Messias esperado, mas o profeta que anuncia aquele que virá a seguir e ao qual o próprio João não se sente sequer digno de “desatar as sandálias” (vers. 25). A expressão denuncia essa consciência que o profeta tem de ser apenas um simples e frágil instrumento de Deus.
Repare-se, ainda, como João se esforça por não apontar para si mesmo, mas para Cristo. A missão do profeta não é dirigir o olhar do mundo na sua própria direção, mas sim o orientar o coração dos homens para o essencial, para Deus.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão do texto pode fazer-se a partir das seguintes indicações:
• O profeta é alguém chamado a testemunhar Deus no meio dos homens, mesmo quando os homens preferem ignorar Deus e edificar a sua vida à margem de Deus. João Baptista, o profeta, assumiu plenamente a missão de testemunhar Deus: convocou os homens para o encontro com o Deus encarnado, convidou os homens a despirem o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, a violência, a ganância, e a preparar o coração para acolher a proposta de salvação que Deus veio fazer, em Jesus. Este programa não perdeu atualidade: o apelo à conversão, à revolução das mentalidades e das atitudes e o convite a acolher a libertação que Deus nos oferece continuam a fazer sentido e a ser o núcleo essencial do anúncio profético. É este o meu programa?
• O profeta é um instrumento simples, limitado e frágil, através de quem Deus age no mundo. Isto revela, por um lado, que Deus se manifesta na simplicidade e na fraqueza e que é aí que devemos procurá-l’O (Ele nunca está no poder, na riqueza, na força, na prepotência, na imposição); isto revela, por outro lado, que o profeta não tem de que se orgulhar ou envaidecer: não são as suas qualidades que são determinantes, mas sim a ação de Deus.
• O “caminho profético” não passa por concentrar em si próprio a atenção das multidões, exibir-se e receber a adoração das pessoas, ser admirado e aclamado, conseguir sucesso e aparecer nas revistas sociais, promover a imagem e tratar por tu os que mandam no mundo, exibir brilhantes qualidades e criar clubes de fãs. O profeta é o “servo” de Deus, que se esconde atrás do cenário enquanto aponta os focos para Deus e cuja função é fazer incidir em Deus os olhos dos homens… Não é o profeta que deve aparecer; mas, nele, é Deus que os homens devem encontrar.

ALELUIA – cf Lc 1,76
Aleluia. Aleluia.
Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo,
irás à frente do Senhor a preparar os seus caminhos.

EVANGELHO – Lc 1,57-66.80
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. Oito dias depois, vieram circuncidar o menino e deram-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas a mãe interveio e disse: «Não, Ele vai chamar-se João». Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». Perguntaram então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. O pai pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. Imediatamente se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da Judéia se divulgaram estes fatos. Quantos os ouviam contar guardavam-nos em seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. E foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel.
AMBIENTE
O “Evangelho da Infância”, na versão de Lucas, põe em paralelo as figuras de João e de Jesus (ao anúncio do nascimento de João – cf. Lc 1,5-25 – corresponde o anúncio do nascimento de Jesus – cf. Lc 1,26-38; à história do nascimento de João – cf. Lc 1,57-80 – corresponde a história do nascimento de Jesus – cf. Lc 2,1-21). Este paralelismo serve para iluminar a relação existente entre os dois – uma relação que a reflexão eclesial foi aprofundando e ampliando desde as tradições mais antigas.
Na época em que Lucas escreve, as comunidades cristãs conhecem os discípulos de João, cuja atividade proselitista chegou à Ásia Menor (cf. At 18,24-19,7). Provavelmente, havia quem confundia João com o Messias… Neste contexto, a comunidade lucana quis deixar claro o papel relevante de João na economia da salvação mas, ao mesmo tempo, afirmar a subordinação de João a Jesus… A superioridade de Jesus em relação a João está, aliás, bem patente na diferença entre o relato do anúncio do nascimento de João e o relato do anúncio do nascimento de Jesus; está também patente no encontro de Maria com Isabel, em que a própria mãe de João proclama Maria como a mãe do seu Senhor, reconhecendo a inferioridade do seu filho em relação a Jesus (cf. Lc 1,39-45); está, ainda, patente no relevo dado pelo evangelista ao relato do nascimento de Jesus (que é longo, rico de pormenores e está carregado de teologia) em detrimento do relato do nascimento de João (que é contado em poucas linhas, sem grande riqueza de detalhes).
MENSAGEM
O relato começa com a descrição do quadro de alegria que acolheu o nascimento do filho de Zacarias e de Isabel (vers. 57-58). A alegria – um dos elementos característicos da teologia de Lucas – significa que chegaram os tempos novos, os tempos do cumprimento das promessas de Deus, o tempo da misericórdia de Deus.
Por alturas da circuncisão (no oitavo dia depois do nascimento, data legal da circuncisão, segundo Gn 17,12 e Lv 12,3), põe-se a questão do nome que irá ser dado ao menino (no Antigo Testamento, o nome é dado à nascença – cf. Gn 4,1; 21,3; 25,25-26; mas aqui aparece o costume helenista, assumido pelo judaísmo mais recente). Os vizinhos e parentes dão como adquirido que o menino se chamará como o pai. No entanto, Isabel e Zacarias escolhem um outro nome: João (sugerido pelo anjo, e quando do anúncio do nascimento do menino – cf. Lc 1,13). O nome significa literalmente “o Senhor concede graça”: o menino é um “dom de Deus” e o primeiro sinal da graça que Deus vai derramar sobre os homens, através do Messias que está para chegar. Por outro lado, o acordo da mãe e do pai sobre um nome que não era familiar aparece como divinamente inspirado.
Diante do nascimento de João, Lucas nota o espanto e o temor de todos os presentes. O espanto (vers. 63) é a reação habitual das multidões diante dos milagres (cf. Lc 8,25.56; 9,43; 11,14; Act 3,10) e de outras manifestações divinas (cf. Lc 24,12.41; At 2,7); o “temor” (vers. 65) define a atitude normal do homem diante do mistério, do transcendente, do divino (Lucas fará referência ao “temor” diante das revelações – cf. Lc 2,9; 9,34 – dos milagres – cf. Lc 5,26; 7,16; 8,25.37; 24,5.37 – e de outras intervenções divinas – cf. At 5,5.11; 19,17).
O quadro completa-se com a indicação de que, “de fato, a mão do Senhor estava com ele” (vers. 66). A expressão inspira-se no Antigo Testamento, onde serve para exprimir a proteção de Deus sobre os seus fiéis (cf. Sal 80,18; 139,5) e a sua ação sobre os profetas (cf. 1 Re 18,46; 2 Re 3,15; Ez 1,3; 3,14.22; 8,1). Aqui, significa que João tem a proteção de Deus e que Deus age nele. Tudo isto define um quadro de intervenção e de presença de Deus, mostrando que toda a existência de João se compreende à luz da iniciativa divina.
No final da leitura (vers. 80a), apresenta-se uma fórmula usada para resumir a infância de certas figuras que desempenharam papéis de referência na história do Povo de Deus (Sansão – cf. Jz 13,24-25; Samuel – cf. 1 Sm 2,26). Há também uma referência à ida de João para o deserto (vers. 80b); deserto é o lugar onde Israel fez a sua experiência de encontro com o Deus libertador, onde sentiu de forma especial o amor de Deus e onde o Povo assumiu o compromisso da aliança: é essa experiência que João vai fazer, para depois a apresentar ao seu Povo. Além disso, a referência ao deserto prepara a próxima aparição de João no Evangelho, cerca de trinta anos depois (cf. Lc 3,1-3).
No relato transparece, de forma especial, a centralidade de Deus em todo o processo. João é um “dom de Deus”, vem com uma missão de Deus e é um sinal da presença de Deus no meio do seu Povo.
ATUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes linhas:
• A história de João fala-nos, em primeiro lugar, de um Deus que ama os homens e que tem para lhes oferecer um projeto de salvação e de vida plena; é por isso que Ele inventa formas humanas de vir ao encontro dos homens, de lhes fazer chegar a sua Palavra e as suas propostas, de os questionar e interpelar com a Palavra profética… Ao celebrar esta solenidade, estamos a celebrar o Deus/amor, que se revela na figura do profeta João. Eu tenho sido sempre, para os meus irmãos, um “dom de Deus”, um sinal vivo e profético do Deus que os ama e que lhes oferece a salvação? Os “vizinhos e parentes” encontram em mim a manifestação de Deus?
• No relato do nascimento de João, transparece a centralidade de Deus na vida do profeta, desde o seio materno. O profeta é um homem de Deus, cuja vida tem origem em Deus, cuja vocação só faz sentido à luz de Deus, cujo alimento é o próprio Deus, cujas palavras são palavras de Deus. Tenho consciência de que Deus tem de estar no centro da minha vida e que a minha vocação profética só faz sentido se eu aceitar viver numa ligação “umbilical” com Deus?
• Embora os textos de hoje não refiram essa dimensão, convém, nesta solenidade, refletir acerca da forma como João Baptista viveu a sua missão profética. São particularmente questionantes o seu despojamento, a sua radicalidade, a sua entrega total à missão, a coragem com que ele enfrentou os poderosos, a sua capacidade de dar a vida para defender a verdade. Estas características fazem parte do “caminho profético”.
• No relato de Lucas, fica bem expressa a diferença entre João e Jesus… João não é a salvação; ele veio, apenas, dar testemunho da chegada iminente da salvação. O profeta precisa de ter consciência do seu papel e do seu lugar: ele não é “a luz”; a sua missão não é levar os homens a aderir à sua pessoa, mas à pessoa de Jesus. O profeta deve ter cuidado para não usurpar, nunca, o lugar de Deus.
BILHETE DE EVANGELHO.
Zacarias tinha posto em dúvida a palavra do mensageiro de Deus; esta dúvida tornou-o mudo. Porque não acolheu a mensagem de Deus, não podia anunciar qualquer mensagem. Ora, eis que Isabel, sua esposa, dá ao mundo um filho a quem dá o nome de João, mas cabe ao pai dar um nome ao seu filho. Zacarias, animado pelo Espírito de Deus, não opôs qualquer resistência, escreve o nome de João. Então, porque fez a vontade de Deus, torna-se um homem livre, livre de falar, livre de bendizer a Deus. Seríamos tentados a dizer: desde os seus oito dias, pela sua presença, aquele que será o último profeta da Antiga Aliança e o primeiro a mostrar o Messias, oferece a Deus a ocasião de manifestar a sua obra criadora e libertadora. A mão do Senhor estava com ele. Então, compreende-se a interrogação da multidão: «Quem virá a ser este menino?» A resposta será dada trinta anos mais tarde: ele será o percursor, aquele que precede o Messias que deve vir.
À ESCUTA DA PALAVRA.
«Quem virá a ser este menino?» João Baptista será o único ser humano, com a Virgem Maria e Jesus, naturalmente, de quem a Igreja celebra o nascimento terrestre. Para todos os outros santos, ela faz memória do seu “nascimento para o céu”, isto é, da sua morte. Porquê um tal privilégio para o Baptista? Porque recebeu o Espírito Santo desde o seu nascimento, quando Maria, a “cheia de graça”, veio visitar a sua prima Isabel. Ele é o maior dos profetas de Israel, porque reconheceu e designou o Messias. Isso aconteceu em toda a sua vida. Até ao fim, permanecerá fiel à sua missão de porta-voz de Deus e a sua morte será miserável. Poderia ser tentado a tomar-se por Messias. Aceitando a sua missão, João Baptista nada reivindicou para si. Viveu numa total humildade, sabendo fazer a verdade sobre si mesmo. Pôde, então, viver no amor que tem a sua fonte em Deus. Amigo do esposo, de Jesus, reconheceu que Jesus era maior do que ele. Tornou-se, assim, para nós, um exemplo na nossa caminhada de seguimento de Jesus, para que deixemos, nós também, Jesus crescer em nós. Que isso seja também a nossa alegria.
Fonte: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)