Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
O Significado da Quaresma
Desde o final do século IV, a Igreja valoriza a preparação da Páscoa através de um período de 40 dias. A Bíblia usa com freqüência períodos de 40 dias (ou 40 anos) para indicar ocasiões especiais em que são vividas experiências importantes: são os quarenta anos de caminho do povo no deserto, os 40 dias de Jesus no deserto, 40 dias de Moisés no Monte Sinai, os 40 dias das andanças de Elias até a montanha de Deus...
Esses períodos vêm antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.
São tempos densos de intimidade com Deus, de fortalecimento, hora de cada um se abrir para atender a um chamado carregado de riscos, responsabilidades e de grandes realizações.
Assim, hoje para nós, a Quaresma é tempo de ouvir com melhor disposição o apelo que Deus nos faz para sermos mais generosos, mais santos, mais fiéis ao compromisso de nosso Batismo. Assim como, para corrigir uma escrita, apagamos primeiro os erros, para corrigir nossos rumos de vida, confiamos no perdão de Deus, que apaga as nossas faltas. Por isso, Quaresma é também tempo de revisão de vida, de penitência, de reconhecer, com humildade e confiança, onde estão nossas deficiências e buscar o perdão e a força de Deus. Podemos fazer isso na tranqüila esperança que vem da fé no amor de Deus, que sempre chama, ajuda, perdoa e faz crescer.
A idéia central que vai ser o fio condutor nas reflexões desenvolvidas na Quaresma é a gratuidade do amor de Deus, capaz de tudo para nos salvar, sempre disposto a perdoar. Esse amor se manifesta em Jesus até as últimas conseqüências, numa doação que não conhece limites. A permanente misericórdia que vai aos extremos para nos salvar não está condicionada aos nossos méritos, mas é derivada da própria natureza de Deus, que não pode deixar de ser amor.
Esperamos que esse amor gratuito seja estímulo para nunca desanimarmos diante de nossos pecados e limitações. Sabendo que dependemos sempre da compaixão de Deus e que ela nunca nos falta, deveríamos nos dispor a usar também de compaixão para com nossos irmãos e a lutar com esperança por tudo que traz mais vida para todos.
por. Padre Vagner Augusto Portugal
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Hospital Monsenhor Horta prossegue difusão da Campanha da Fraternidade
Dando sequência ao trabalho de divulgação da mensagem da Campanha da Fraternidade 2012: Fraternidade e Saúde Pública que tem como lema: Que a saúde se difunda sobre a Terra, representantes do Hospital Monsenhor Horta estiveram com representantes de outras pastorais para discutir os principais desafios da cidade de Mariana na execução desta Campanha.
O Encontro dá sequência à reunião realizada na paróquia Sagrado Coração de Jesus. A diretora administrativa, Edla Rodrigues, junto à coordenadora da Pastoral da Saúde do HMH, Aparecida Custódio e as coordenadoras setoriais, Tarcila Costa e Carolina Aguilar pontuaram as principais demandas da população que faz uso do Hospital com o objetivo de atrair novos voluntários. Até o momento, 12 pessoas se apresentaram para voluntariarem.
“Esta parceria que firmamos na cidade só engrandece e fortalece a Pastoral da Saúde. Nossa expectativa é de que consigamos muitos voluntários para o Hospital”, afirma a coordenadora, Aparecida Custódio.
A Pastoral da Saúde dos hospitais camilianos inicia a difusão da Campanha da Fraternidade em todos os ambientes em que estiver inserida. Desde o acolhimento do paciente no leito, durante sua internação e até a alta médica. É um instrumento da fé cristã e se caracteriza por levar a mensagem de amor aos enfermos.
“Neste ano, o tema da Campanha que destaca a difusão da saúde na terra, faremos mais do que buscar o acesso ao paciente, mas permaneceremos com nossa atuação de assistência emocional e de fé para com os enfermos”, finaliza a diretora Edla Rodrigues.
Fonte: Assessoria de Comunicação
São Camilo
São Camilo
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Celebração de Quarta Feira de Cinzas
A Celebração de Quarta Feira de Cinzas, foi um momento de muita meditação, assim como o tempo nos proprorciona reflexão, Jejum, e Conversão, o nosso querido Arcebispo falou sobre a campanha da Fraternidade "Que a Saúde se difunda sobre a Terra"; Saúde Pública.
Milhares de Fiéis participaram da Celebração na Praça Sé.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012
Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e, todavia, são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bemdo outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O fato de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje se é muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de considerá-la na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e onipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua.
Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011
Campanha da Fraternidade: 49 anos de amor ao próximo e referência democrática
Está chegando a Quaresma, tempo em que a liturgia da Igreja convida os fiéis a se prepararem para a Páscoa, mediante a conversão, com práticas de oração, jejum e esmola. E é justamente na Quarta-Feira de Cinzas, que acontece um dos principais eventos da Igreja Católica no Brasil, o lançamento da Campanha da Fraternidade. A CF, como é conhecida, está na sua 49ª edição, é realizada todos os anos e seu principal objetivo é despertar a solidariedade das pessoas em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos e apontando soluções. Neste ano de 2012 a Campanha da Fraternidade destaca a saúde pública e suas variantes. Com o tema “Fraternidade e Saúde Pública”, e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo 38,8); a CF de 2012 tentará refletir o cenário da saúde no Brasil, conscientizando o Governo da precarização de condições dos hospitais e mobilizando a sociedade civil para reivindicar melhorias.
A CF é uma campanha conhecida em todo o país e reconhecida internacionalmente. Mas você sabe quando ela começou? Quem foram os seus criadores? A primeira Campanha da Fraternidade foi idealizada no dia 26 de dezembro de 1963, sob influencia do espírito do Concílio Vaticano II.
Antes disso, o primeiro movimento regional, que foi uma espécie de embrião para a criação do atual modelo da “Campanha da Fraternidade”, foi realizado em Natal (RN), no dia 8 de abril de 1962, por iniciativa do então Administrador Apostólico da Natal, dom Eugênio de Araújo Sales, de seu irmão, à época padre, Heitor de Araújo Sales e de Otto Santana, também padre. Esta campanha tinha como objetivo fazer “uma coleta em favor das obras sociais e apostólicas da arquidiocese, aos moldes de campanhas promovidas pela instituição alemã Misereor”, explicou dom Eugênio Sales, em entrevista a arquidiocese de Natal, em 2009. A comunidade de Timbó, no Município de Nísia Floresta (RN), foi o lugar onde a campanha ocorreu pela primeira vez.
“Quando no começo de 1960, eu estava concluindo meu trabalho de doutorado em Direito Canônico na Universidade Lateranense, em Roma, fui para a Alemanha onde tinha mais tranquilidade para o que desejava. Ali pude acompanhar a Campanha Quaresmal daquele ano para recolher o fruto dos sacrifícios em benefício dos povos que sofriam fome, como eles mesmos tinham sofrido 15 anos antes, logo depois da Segunda Guerra Mundial. O material para informação (homilias, boletins paroquiais, etc.) continha reflexões muito profundas. Trouxe para o Brasil todo o material para que pudéssemos adaptar aqui.
Dom Eugenio Sales numa reunião do clero lançou a ideia. Foi feita uma lista e nomes, no fim venceu o nome “Campanha da Fraternidade”. Ficamos satisfeitos com o nome, mas nunca imaginávamos que aquela pequena semente se transformasse no que é hoje”, disse o arcebispo emérito de Natal, dom Heitor de Araújo Sales.
“Não vai lhe ser pedida uma esmola, mas uma coisa que lhe custe. Não se aceitará uma contribuição como favor, mas se espera uma característica do cumprimento do dever, um dever elementar do cristão. Aqui está lançada a Campanha em favor da grande coleta do dia 8 de abril, primeiro domingo da Paixão”, disse dom Eugênio Sales, no ato de lançamento da campanha, em Timbó (RN).
Segundo dom Heitor, o papa João XXIII tinha lançado a ideia de que católicos de países ricos pudessem dar um pouco de suas vidas para ajudar na evangelização de outras terras. Chamavam-se “Voluntários do Papa”. Assim vieram para cá missionários leigos dos Estados Unidos (EUA) e de outros lugares. Eles também ajudaram no começo da Campanha.
A experiência foi adotada, logo em 1963, por 19 dioceses do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte). Naquela época envolvidos pelo Concílio Vaticano II, os demais bispos brasileiros fizeram o lançamento do Projeto da Campanha da Fraternidade para todo o Brasil. Dessa forma, na Quaresma de 1964 foi realizada a primeira Campanha em âmbito nacional. Desde então, até os dias atuais, a CF é realizada em todos os recantos do Brasil.
Em 20 de dezembro de 1964, os bispos brasileiros que participavam do Concílio Ecumênico Vaticano II, em Roma, aprovaram o fundamento inicial da mesma, intitulado “Campanha da Fraternidade – Pontos Fundamentais apreciados pelo Episcopado em Roma”. Em 1965, tanto a Cáritas quanto Campanha da Fraternidade foram vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A partir de então que a Conferência dos Bispos Brasileiros passou a assumir a Campanha da Fraternidade. Nesta transição, foi estabelecida a estruturação básica da CF.
“Naquela época, a Igreja se voltava a si, preocupada com a implantação do Concílio Vaticano II e em renovar as suas estruturas conforme as indicações conciliares. Daí surgiu a Campanha da Fraternidade. Ela, inicialmente se prestou a este objetivo. No entanto, a CF contribuiu na superação da dicotomia ‘Fé e Vida’, que, imbuída do espírito Quaresmal quer modificar a situação do fiel, em prol da vida e da justiça”, explicou o atual secretário executivo da Campanha da Fraternidade da CNBB, padre Luiz Carlos Dias.
Em 1967, começou a ser redigido um subsídio para a CF auxiliando assim as dioceses e paróquias de todo o país. Nesse mesmo ano iniciaram também os encontros nacionais das Coordenações Nacional e Regionais da Campanha da Fraternidade.
Em 1970, a Campanha ganhou um especial e significativo apoio, uma mensagem do papa Paulo VI para o dia do lançamento da Campanha, o que virou uma tradição entre os papas.
Em 1970, a Campanha ganhou um especial e significativo apoio, uma mensagem do papa Paulo VI para o dia do lançamento da Campanha, o que virou uma tradição entre os papas.
A partir de uma análise dos temas abordados a cada ano, a história da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em três fases distintas: de 1964 a 1972, os temas refletem um olhar voltado para a renovação interna da Igreja, provavelmente sob o influxo das reformas propostas pelo Concílio Vaticano II; de 1973 a 1984, aparece na Campanha a preocupação da Igreja com a realidade social do povo brasileiro, refletindo influências do Vaticano II e das Conferências Episcopais de Medelín e Puebla, sem deixar de lado a questão política nacional, que vivia uma de suas mais terríveis fases: a ditadura militar. A terceira fase, a partir de 1985, reflete situações existenciais dos brasileiros.
Ao longo da história, as Campanhas abordaram questões do compromisso cristão na sociedade. Em alguns casos, as essas questões discutidas geraram o surgimento de Pastorais ou serviços no seio da Igreja. Foram levantados e debatidos temas como, em 1985, a questão da fome; em 1986, o problema fundiário; em 1987, o tratamento do poder público para com o menor. Em 1988, a campanha apelou por uma adesão a Jesus Cristo; em 1989, conclamou o povo a assumir uma postura crítica frente aos meios de comunicação social; em 1990, abordou a questão do gênero, chamando a atenção para a igualdade do homem e da mulher, diante de Deus; em 1999, chamou a sociedade e o poder público para discutir o problema do desemprego; em 2000, convidou as igrejas cristãs e a sociedade a lutarem pela promoção de vida digna para todos. Em 2001, levantou o problema das drogas e as consequências na vida das pessoas; em 2008, propôs o debate sobre a defesa da vida; em 2011, falou sobre a vida no planeta.
Neste ano de 2012, a saúde pública será o foco das discussões. De acordo com o arcebispo de Ribeirão Preto, dom Joviano de Lima Junior, a saúde é “dom de Deus” e, enquanto tal é um direito que além de ser preservado, precisa ser conquistado. “Além disso, pensemos na importância da alimentação e da preservação do ambiente. Porém, não podemos nos esquecer das estruturas insuficientes dos hospitais e dos postos de saúde”, disse.
Fonte: CNBB
Quarta Feira de Cinzas
Lembra-te que do pó viestes e ao pó, hás de retornar
A Quarta-feira de Cinzas na Igreja é um momento especial porque nos introduz precisamente no mistério quaresmal.
Uma das frases – no momentio da imposição das cinzas – serve de lembrete para nós: 'Lembra-te que do pó viestes e ao pó, hás de retornar.' A cinza quer demonstrar justamente isso; viemos do pó, viemos da cinza e voltaremos para lá, mas, precisamos estar com os nossos corações preparados, com a nossa alma preparada para Deus.
A Quarta-feira de Cinzas leva-nos a visualizar a Quaresma, exatamente para que busquemos a conversão, busquemos o Senhor. A liturgia do tempo quaresmal mostra-nos a esmola, a oração e o jejum como o princípios da Quaresma.
A própria Quarta-feira de Cinzas nos coloca dentro do mistério. É um tempo de muita conversão, de muita oração, de arrependimento, um tempo de voltarmos para Deus.
Eu gosto muito de um texto do livro das Crônicas que diz: “Se meu povo, sobre o qual foi invocado o meu nome, se humilhar, se procurar minha face para orar, se renunciar ao seu mau procedimento, escutarei do alto dos céus e sanarei sua terra” (II Cr 7, 14).
A Quaresma é tempo conversão, tempo de silêncio, de penitência, de jejum e de oração.
Eu, padre Roger, pergunto para Deus: “Senhor, que queres que eu faça”? - mesma pergunta de São Francisco diante do crucifixo. Mas, geralmente, a minha penitência é ofertar algo de que eu gosto muito para Deus neste tempo quaresmal. Você, que fuma, por exemplo, deixe de fazê-lo na Quaresma. Tenho certeza de que após esse tempo quaresmal Deus o libertará do vício do cigarro. Você, que bebe, não beba, permitindo que o próprio Deus o leve à conversão pela penitência que você está fazendo. Talvez você precise fazer penitência da língua, da fofoca. Escolha uma coisa concreta e não algo que, de tão abstrato, não vai levá-lo a nada. Faça penitência de novela, você que as assiste. Tem de ser algo que o leve à conversão.
O Espírito Santo o levará à penitência que você precisa fazer nesta Quaresma.
Padre Roger Luis
Comunidade Canção Nova
Comunidade Canção Nova
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Mensagem do papa para o 49º Dia Mundial de Oração pelas Vocações
O Vaticano publicou nesta segunda-feira, 13, a mensagem do papa Bento XVI para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado no dia 29 de abril deste ano. Com o tema "As vocações, dom do amor de Deus", o Santo Padre explica qual o sentido da vocação e como ela acontece na vida de cada pessoa.
"Neste terreno de um coração em oblação, na abertura ao amor de Deus e como fruto deste amor, nascem e crescem todas as vocações", escreveu o Pontífice.
Bento XVI também fez um convite para que cada cristão redescubra o amor de Deus e anuncie essa vivencia, principalmente para as novas gerações: "Por isso é preciso anunciar de novo, especialmente às novas gerações, a beleza persuasiva deste amor divino, que precede e acompanha: este amor é a mola secreta, a causa que não falha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis", ressaltou.
Por fim, o papa pediu que as Pastorais Vocacionais incentivem a descoberta de vocações. Segundo ele: “É tarefa da pastoral vocacional oferecer os pontos de orientação para um percurso frutuoso”.
Bento XVI também enfatizou o papel da Igreja na construção de diferentes vocações e encorajou os agentes de pastorais para que conduzam cada fiel a mergulhar na beleza do chamado de Deus.
Leia a íntegra da mensagem do Papa Bento XVI para o 49º Dia Mundial de Oração pelas Vocações:
Amados irmãos e irmãs!
O XLIX Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado no IV domingo de Páscoa – 29 de Abril de 2012 –, convida-nos a refletir sobre o tema «As vocações, dom do amor de Deus».
A fonte de todo o dom perfeito é Deus, e Deus é Amor – Deus caritas est –; «quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele» (1 Jo 4, 16). A Sagrada Escritura narra a história deste vínculo primordial de Deus com a humanidade, que antecede a própria criação. Ao escrever aos cristãos da cidade de Éfeso, São Paulo eleva um hino de gratidão e louvor ao Pai pela infinita benevolência com que predispõe, ao longo dos séculos, o cumprimento do seu desígnio universal de salvação, que é um desígnio de amor. No Filho Jesus, Ele «escolheu-nos – afirma o Apóstolo – antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em caridade na sua presença» (Ef 1, 4). Fomos amados por Deus, ainda «antes» de começarmos a existir! Movido exclusivamente pelo seu amor incondicional, «criou-nos do nada» (cf. 2 Mac 7, 28) para nos conduzir à plena comunhão consigo.
À vista da obra realizada por Deus na sua providência, o salmista exclama maravilhado: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a Lua e as estrelas que Vós criastes, que é o homem para Vos lembrardes dele, o filho do homem para com ele Vos preocupardes?» (Sal 8, 4-5). Assim, a verdade profunda da nossa existência está contida neste mistério admirável: cada criatura, e particularmente cada pessoa humana, é fruto de um pensamento e de um ato de amor de Deus, amor imenso, fiel e eterno (cf. Jer 31, 3). É a descoberta deste fato que muda, verdadeira e profundamente, a nossa vida.
Numa conhecida página das Confissões, Santo Agostinho exprime, com grande intensidade, a sua descoberta de Deus, beleza suprema e supremo amor, um Deus que sempre estivera com ele e ao qual, finalmente, abria a mente e o coração para ser transformado: «Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Vós estáveis dentro de mim, mas eu estava fora, e fora de mim Vos procurava; com o meu espírito deformado, precipitava-me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse em Vós. Chamastes-me, clamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e dissipastes a minha cegueira. Exalastes sobre mim o vosso perfume: aspirei-o profundamente, e agora suspiro por Vós. Saboreei-Vos e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e agora desejo ardentemente a vossa paz» (Confissões, X, 27-38). O santo de Hipona procura, através destas imagens, descrever o mistério inefável do encontro com Deus, com o seu amor que transforma a existência inteira.
Trata-se de um amor sem reservas que nos precede, sustenta e chama ao longo do caminho da vida e que tem a sua raiz na gratuidade absoluta de Deus. O meu antecessor, o Beato João Paulo II, afirmava – referindo-se ao ministério sacerdotal – que cada «gesto ministerial, enquanto leva a amar e a servir a Igreja, impele a amadurecer cada vez mais no amor e no serviço a Jesus Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja, um amor que se configura sempre como resposta ao amor prévio, livre e gratuito de Deus em Cristo» (Exort. ap. Pastores dabo vobis, 25). De fato, cada vocação específica nasce da iniciativa de Deus, é dom do amor de Deus! É Ele que realiza o «primeiro passo», e não o faz por uma particular bondade que teria vislumbrado em nós, mas em virtude da presença do seu próprio amor «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5).
Em todo o tempo, na origem do chamamento divino está a iniciativa do amor infinito de Deus, que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. «Com efeito – como escrevi na minha primeira Encíclica, Deus caritas est – existe uma múltipla visibilidade de Deus. Na história de amor que a Bíblia nos narra, Ele vem ao nosso encontro, procura conquistar-nos – até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até às aparições do Ressuscitado e às grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente. Também na sucessiva história da Igreja, o Senhor não esteve ausente: incessantemente vem ao nosso encontro, através de pessoas nas quais Ele Se revela; através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente na Eucaristia» (n.º 17).
O amor de Deus permanece para sempre; é fiel a si mesmo, à «promessa que jurou manter por mil gerações» (Sal 105, 8). Por isso é preciso anunciar de novo, especialmente às novas gerações, a beleza persuasiva deste amor divino, que precede e acompanha: este amor é a mola secreta, a causa que não falha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Amados irmãos e irmãs, é a este amor que devemos abrir a nossa vida; cada dia, Jesus Cristo chama-nos à perfeição do amor do Pai (cf. Mt 5, 48). Na realidade, a medida alta da vida cristã consiste em amar «como» Deus; trata-se de um amor que, no dom total de si, se manifesta fiel e fecundo. À prioresa do mosteiro de Segóvia, que fizera saber a São João da Cruz a pena que sentia pela dramática situação de suspensão em que ele então se encontrava, este santo responde convidando-a a agir como Deus: «A única coisa que deve pensar é que tudo é predisposto por Deus; e onde não há amor, semeie amor e recolherá amor» (Epistolário, 26).
Neste terreno de um coração em oblação, na abertura ao amor de Deus e como fruto deste amor, nascem e crescem todas as vocações. E é bebendo nesta fonte durante a oração, através duma familiaridade assídua com a Palavra e os Sacramentos, nomeadamente a Eucaristia, que é possível viver o amor ao próximo, em cujo rosto se aprende a vislumbrar o de Cristo Senhor (cf. Mt 25, 31-46). Para exprimir a ligação indivisível entre estes «dois amores» – o amor a Deus e o amor ao próximo – que brotam da mesma fonte divina e para ela se orientam, o Papa São Gregório Magno usa o exemplo da plantinha: «No terreno do nosso coração, [Deus] plantou primeiro a raiz do amor a Ele e depois, como ramagem, desenvolveu-se o amor fraterno» (Moralia in Job, VII, 24, 28: PL 75, 780D).
Estas duas expressões do único amor divino devem ser vividas, com particular vigor e pureza de coração, por aqueles que decidiram empreender um caminho de discernimento vocacional em ordem ao ministério sacerdotal e à vida consagrada; aquelas constituem o seu elemento qualificante. De fato, o amor a Deus, do qual os presbíteros e os religiosos se tornam imagens visíveis – embora sempre imperfeitas –, é a causa da resposta à vocação de especial consagração ao Senhor através da ordenação presbiteral ou da profissão dos conselhos evangélicos. O vigor da resposta de São Pedro ao divino Mestre – «Tu sabes que Te amo» (Jo 21, 15) – é o segredo duma existência doada e vivida em plenitude e, por isso, repleta de profunda alegria.
A outra expressão concreta do amor – o amor ao próximo, sobretudo às pessoas mais necessitadas e atribuladas – é o impulso decisivo que faz do sacerdote e da pessoa consagrada um gerador de comunhão entre as pessoas e um semeador de esperança. A relação dos consagrados, especialmente do sacerdote, com a comunidade cristã é vital e torna-se parte fundamental também do seu horizonte afetivo. A este propósito, o Santo Cura d’Ars gostava de repetir: «O padre não é padre para si mesmo; é-o para vós» [Le curé d’Ars. Sa pensée – Son cœur ( ed. Foi Vivante - 1966), p. 100].
Venerados Irmãos no episcopado, amados presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, catequistas, agentes pastorais e todos vós que estais empenhados no campo da educação das novas gerações, exorto-vos, com viva solicitude, a uma escuta atenta de quantos, no âmbito das comunidades paroquiais, associações e movimentos, sentem manifestar-se os sinais duma vocação para o sacerdócio ou para uma especial consagração.É importante que se criem, na Igreja, as condições favoráveis para poderem desabrochar muitos «sins», respostas generosas ao amoroso chamamento de Deus.
É tarefa da pastoral vocacional oferecer os pontos de orientação para um percurso frutuoso. Elemento central há de ser o amor à Palavra de Deus, cultivando uma familiaridade crescente com a Sagrada Escritura e uma oração pessoal e comunitária devota e constante, para ser capaz de escutar o chamamento divino no meio de tantas vozes que inundam a vida diária. Mas o «centro vital» de todo o caminho vocacional seja, sobretudo, a Eucaristia: é aqui no sacrifício de Cristo, expressão perfeita de amor, que o amor de Deus nos toca; e é aqui que aprendemos incessantemente a viver a «medida alta» do amor de Deus. Palavra, oração e Eucaristia constituem o tesouro precioso para se compreender a beleza duma vida totalmente gasta pelo Reino.
Desejo que as Igrejas locais, nas suas várias componentes, se tornem «lugar» de vigilante discernimento e de verificação vocacional profunda, oferecendo aos jovens e às jovens um acompanhamento espiritual sábio e vigoroso. Deste modo, a própria comunidade cristã torna-se manifestação do amor de Deus, que guarda em si mesma cada vocação. Tal dinâmica, que corresponde às exigências do mandamento novo de Jesus, pode encontrar uma expressiva e singular realização nas famílias cristãs, cujo amor é expressão do amor de Cristo, que Se entregou a Si mesmo pela sua Igreja (cf. Ef 5, 25).
Nas famílias, «comunidades de vida e de amor» (Gaudium et spes, 48), as novas gerações podem fazer uma experiência maravilhosa do amor de oblação. De fato, as famílias são não apenas o lugar privilegiado da formação humana e cristã, mas podem constituir também «o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada pelo Reino de Deus» (Exort. ap. Familiaris consortio, 53), fazendo descobrir, mesmo no âmbito da família, a beleza e a importância do sacerdócio e da vida consagrada. Que os Pastores e todos os fiéis leigos colaborem entre si para que, na Igreja, se multipliquem estas «casas e escolas de comunhão» a exemplo da Sagrada Família de Nazaré, reflexo harmonioso na terra da vida da Santíssima Trindade.
Com estes votos, concedo de todo o coração a Bênção Apostólica a vós, veneráveis Irmãos no episcopado, aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis leigos, especialmente aos jovens e às jovens que, de coração dócil, se põem à escuta da voz de Deus, prontos a acolhê-la com uma adesão generosa e fiel.
Com estes votos, concedo de todo o coração a Bênção Apostólica a vós, veneráveis Irmãos no episcopado, aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis leigos, especialmente aos jovens e às jovens que, de coração dócil, se põem à escuta da voz de Deus, prontos a acolhê-la com uma adesão generosa e fiel.
Vaticano, 18 de Outubro de 2011
Papa Bento XVI
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Bento XVI: "Deixemo-nos ser tocados e purificados por Cristo"
O resquício da neve pelas ruas da cidade de Roma não impediu que inúmeros fiéis e peregrinos viessem à Praça São Pedro para ver e ouvir o Papa rezar o Ângelus deste domingo, 12 de fevereiro.
Na alocução que precedeu a oração mariana, Bento XVI comentou o Evangelho deste domingo, que mostra Jesus em contato com a forma de doença considerada, naquele tempo, a mais grave, a ponto de tornar a pessoa "impura" e de exclui-la das relações sociais: a lepra.
Enquanto Jesus pregava pelos vilarejos da Galileia, um leproso veio ao seu encontro e disse: "Se queres, tens o poder de purificar-me!". Jesus não fugiu ao contato com aquele homem, pelo contrário, movido de compaixão, estendeu a mão e o tocou – superando a proibição – e lhe disse: "Eu quero, sê purificado!".
"Neste gesto e nas palavras de Cristo há toda a história da salvação, está encarnada a vontade de Deus de nos curar, de nos purificar do mal que nos desfigura e que prejudica as nossas relações."
Neste contato entre a mão de Jesus e o leproso, toda barreira entre Deus e a impuridade humana é abatida, não certamente para negar o mal, mas para demonstrar que o amor de Deus é mais forte do que todo mal. "Jesus se fez 'leproso' para que nós fôssemos purificados" – explicou o Pontífice.
E citou a experiência de S. Francisco, que só se sentiu purificado quando venceu seu temor e abraçou um leproso. Naquele momento, disse o Papa, Jesus curou Francisco da lepra, ou seja, do seu orgulho, e o converteu ao amor de Deus. "Eis a Vitória de Cristo, que é a nossa cura profunda e a nossa ressurreição e vida nova!"
Por fim, Bento XVI recordou que no sábado (11 de fevereiro) a Igreja recordou Nossa Senhora de Lourdes:
"A Santa Bernardette, Nossa Senhora entregou uma mensagem sempre atual: o convite à oração e à penitência. Por meio de sua mãe, é sempre Jesus que nos vem ao encontro, para nos libertar de toda doença do corpo e da alma. Deixemo-nos tocar e purificar por Ele, e usemos misericórdia com os nossos irmãos!"
O Papa se despediu dos fiéis na Praça São Pedro, fazendo votos a todos de um bom dia e de uma boa semana e falou: "Sem neve no próximo domingo!"
Veja na íntegra a mensagem de Bento XVI
Queridos irmãos e irmãs!
No domingo passado, vimos que Jesus, na sua vida pública, curou muitos doentes, revelando a vontade de Deus para a vida do homem, e vida em abundância. O Evangelho deste domingo ( Mc 1,40-45) Jesus mostra-nos em contacto com a forma da doença na época considerado o mais grave o suficiente para fazer uma pessoa "impura" e para excluí-lo das relações sociais: falamos de lepra. Uma lei especial (cf. Lv 13-14) reservado aos sacerdotes a tarefa de declarar a pessoa leprosa, que é impuro, e também pertencia ao padre vê que está se curando, e readmitir o paciente reabilitado para a vida normal.
Enquanto Jesus estava pregando nas aldeias da Galiléia, um leproso veio ter com ele e disse: ". Se você quiser, você pode tornar-me limpo" Jesus não evitar o contacto com este homem, de fato, impulsionado pela participação íntima na sua condição, estende a mão e toca-lo - a superação da proibição legal - e diz: "eu quero, ser purificado." Nesse gesto e as palavras de Cristo é toda a história da salvação, não está incorporada a vontade de Deus para curar, para purificar-nos do mal que desfigura e arruinando nosso relacionamento. Em que o contato entre a mão de Jesus e do leproso foi derrubado todas as barreiras entre Deus e as impurezas humanas, entre o sagrado eo seu oposto, não para negar o mal e sua força negativa, mas para mostrar que o amor Deus é mais forte que qualquer mal, mesmo dos mais contagiosa e terrível. Jesus tomou sobre si as nossas enfermidades, tornou-se o "leproso" porque fomos purificados.
Um comentário maravilhoso para este Evangelho é a experiência existencial do famoso São Francisco de Assis, que ele resume o início de seu Testamento: "O Senhor me deu, Frei Francisco, começar a fazer penitência da seguinte maneira: Quando eu estava em pecado , parecia muito amargo ver os leprosos, eo próprio Senhor me conduziu entre eles e fiz misericórdia com eles. E eu deixei, o que parecia amargo para mim foi transformada em doçura da alma e do corpo. E então eu estava um pouco e deixou o mundo "( FF , 110). Nesses leprosos que se encontraram Francis quando ele ainda estava "em pecado - como ele diz - Jesus estava presente, e quando Francis se aproximou de um deles, e, superando sua repulsa, abraçou-o, Jesus o curou de sua lepra, ou seja, seu orgulho, e converteu-o ao amor de Deus é a vitória de Cristo, que é a nossa cura profunda ea nossa ressurreição para uma nova vida!
Queridos amigos, vamos voltar em oração à Virgem Maria, a quem celebramos ontem pela memória das aparições em Lourdes. Em St. Bernadette, Nossa Senhora deu uma mensagem intemporal: a chamada à oração e à penitência. Através de sua mãe é sempre Jesus que vem até nós, para nos livrar de todas as doenças do corpo e da alma. Vamos tocar e purificá-lo, e nós usamos misericórdia para com nossos irmãos!
Divulgada carta do 14º Encontro Nacional de Presbíteros
Carta do 14º. Encontro Nacional de PresbíterosTema: A identidade e a espiritualidade do Presbítero, no processo de mudança de época.Lema: “Escolhido entre os homens e constituído em favor da humanidade” (Hb 5,1)
Estimado Irmão Presbítero!
1. Debaixo do manto de nossa Mãe Aparecida, Padroeira do Brasil, nós, 409 presbíteros, representando os aproximadamente 22 mil padres, distribuídos por todo o território nacional, nos reunimos durante os dias 1º. a 7 de fevereiro, para refletir sobre nossa identidade e espiritualidade, sob o impacto da mudança de época que vivemos. Cremos que formamos um aspecto bastante significativo do rosto do presbítero brasileiro. Quanto à idade: 31 irmãos com menos de 30; 172 entre 31 e 40; 123 entre os 41 e 50; 65 entre os 51 e 60; 16 entre os 61 e 70 e 2 acima dos 70 anos. Quanto ao tempo de ordenação: até 5 anos, 123; de 6 a 10, 93; de 11 a 20, 112; de 21 a 30, 64; acima de 30, 17 presbíteros.
2. Dentre os elementos que marcam a mudança de época, o maior de todos, que tem impulsionado todos os outros, é o que ocorreu com o ser humano. Ele descobriu a autonomia do universo e, com isso, sua própria autonomia. Este é o maior sinal dos tempos. O presbítero, como qualquer outro cidadão pós-moderno, não aceita mais que sua identidade venha definida e determinada de fora, como que imposta externamente. Por outro lado, nem sempre se sente capaz de aceitar os desafios de construir sua própria identidade. Assim, uns se refugiam em modelos antigos, com a roupagem nova da tendência devocionista e emocionalista, estética e de grande visibilidade, que lhes emprestam segurança, embora na maioria das vezes não consigam esconder o constrangimento por tal opção. Sabem que a sociedade os questiona quanto às suas motivações mais profundas. Outros, apesar de certa insegurança, assumem o processo desafiador de redefinições permanentes de sua identidade, na perspectiva de responder às demandas que lhes vêm de múltiplos ambientes e situações. Há, ainda, os que não optaram nem pelo modelo clássico do passado e nem se aventuraram a redefinir sua identidade. Simplesmente seguem no ministério um tanto indiferentes às problemáticas atuais que envolvem sua vida.3. Destacamos, ainda, a tensão entre um modelo idealizado, proposto pela instituição e o real de cada presbítero. E sob a égide da cultura pós-moderna, constatamos um aspecto novo dessa tensão: a fragmentação da identidade presbiteral e a exacerbação crescente da autonomia, da subjetividade e da dimensão existencial. Com essa moldura, confrontamos os dois milênios cristãos, numa ordem teológica e não cronológica, em que se configuraram predominantemente dois modelos de presbíteros: um entendido na perspectiva pneumatológica-eclesial e outro sob o prisma cristológico-individualista. Com alegria, vemos que o modelo que quer superar essa tensão, abrindo-se à ação do Espírito, à centralidade da Palavra, à qualificação pessoal, à misericórdia nos relacionamentos e à profecia no trabalho evangelizador vem se impondo entre nós. Todos esses elementos dão os novos contornos do debate sobre a identidade presbiteral e que está a exigir de todos nós novas respostas.
4. Da riqueza das reflexões sobre a identidade do presbítero, saímos do 14º. ENP convencidos de que não colocamos um ponto final no debate. Pelo contrário, aumentamos as interrogações que nos servem de pistas, que alimentarão a continuidade de nossa busca em nossas comunidades eclesiais, em nossos presbitérios e no dia-a-dia do exercício do nosso ministério: Quem sou? O que me motiva e define? Como me posiciono no mundo? Que valores e objetivos me orientam? Que forças movem meus sentimentos, minhas ideias, minhas opções de fundo? Onde estão as certezas que dão fundamentação e rumo à minha ação? Quais as ambiguidades, as penumbras, os conflitos que tornam pesado o meu existir? Quem é “outro” para mim? Quem é meu interlocutor, meu companheiro? A quem amo? Para quem e para que existo? Que sentido dou à minha vida? O que é para mim história e tempo? Com que me identifico? Que transcendência a experiência me ensinou a assumir como realidade última? Quem é o Deus em quem acredito?
5. Percebemos a profunda inter-relação que há entre identidade e espiritualidade. Na busca da definição de uma delas, a outra vem quase que automaticamente, pois na vida do presbítero ambas se entrelaçam. Constatamos, ainda, que ambas são processuais e que exigem uma postura de conversão profunda e perseverante não só de cada presbítero, mas igualmente da comunidade eclesial na qual estamos inseridos.
6. Emergiram em nosso encontro características fundamentais do processo de crescimento espiritual: centralidade da Palavra de Deus e na Eucaristia, encontro pessoal com Jesus Cristo, sensibilidade aos sinais dos tempos e discernimentos dos acontecimentos da vida, necessidade de conhecer a pessoa humana para poder conhecer a Deus, comunhão solidária, cuidado de si e dos outros, oração articulada com o cotidiano do ministério, serviço ao povo pela caridade pastoral, disponibilidade missionária, missão profética, vida na e da gratuidade, sacrifício e cruz como constituintes da espiritualidade do presbítero e, por fim, sentimos a urgência de fazer de todo esse processo uma busca da santidade, com destemor e alegria, testemunhando que somos felizes em nosso ministério.
7. Durante todo o 14º. ENP fomos apoiados por inúmeras manifestações de solidariedade de Bispos que acompanham nossa caminhada, tais como os que se fizeram presentes: Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, Dom Jaime Vieira Rocha, Arcebispo nomeado de Natal, Dom Antonio Cavuto, Bispo de Itapipoca, Dom Zanoni Demettino Castro, Bispo de São Mateus, Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo de Formosa, Dom Jaime Spengler, Bispo-Auxiliar de Porto Alegre, Dom Nelson Francelino, Bispo-auxiliar do Rio de Janeiro; os que enviaram suas mensagens: Dom Esmeraldo Barreto, Arcebispo nomeado de Porto Velho, Dom Odilo Scherer, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, Dom Cristiano Kraft, Bispo de Jequié, Dom Guilherme Werlang, Bispo de Ipameri, Dom Alfredo Schaffler, Bispo de Parnaíba, Dom Antonino Migliore, Bispo de Coxim, Dom José Moreira, Bispo de Januária, Dom Eduardo Pinheiro, Bispo-Auxiliar de Campo Grande e referencial da Juventude. E para o nosso retiro espiritual tivemos as reflexões de Dom Dominique Marie Jean Denis You, Bispo de Conceição do Araguaia que, partindo do texto de Neemias, nos ajudou a refletir sobre nossa liderança, os obstáculos de nossa missão e as frestas que precisamos saber explorá-las. Entre nós esteve com sua presença amiga o Diácono Zeno Konzen, Presidente da Comissão dos Diáconos Permanentes. Fomos ajudados pelas colocações dos nossos assessores: Pe. Jésus Benedito dos Santos e Pe. Manoel Godoy. Contamos, sobretudo, com as orações do Povo de Deus presente em nossas comunidades, que aguarda nossa volta, esperançosos de que retornemos com os ânimos renovados, para darmos continuidade ao processo evangelizador.
8. Os desafios da cultura pós-moderna, os nossos limites pessoais, os medos e as inseguranças, a extensão e profundidade de nossa missão e as inúmeras incompreensões que experimentamos como presbíteros não nos afugentam e nem nos paralisam, antes, nos colocam em pé de testemunho, cheios de entusiasmo, não daquele entusiasmo fácil e adolescencial, porque confiamos que nosso ministério, embora dependa do esforço de cada um de nós, conta com a assistência permanente da Graça de Deus. Mergulhados nela e por ela exercemos nossa missão evangelizadora, convencidos de que nosso ministério só pode ser vivido coletivamente, em profunda comunhão com nossos presbitérios. Além disso, no Continente Latino Americano, nosso ministério recebe as bênçãos e graças de nossos irmãos mártires, presbíteros, leigos e leigas que, por amor a Jesus de Nazaré, o Cristo, e pelo Reino, entregaram suas vidas, banhando nosso chão com seu sangue e fazendo germinar sementes proféticas de esperança para toda a comunidade eclesial.
9. Quer sejamos jovens ou idosos, estrangeiros ou autóctones, religiosos ou diocesanos, párocos, vigários paroquiais ou formadores, enfim, em qualquer situação e modalidade em que exercemos nosso ministério é o mesmo amor incondicional a Jesus Cristo que nos leva a crer que nossa configuração a Ele nos enche de sua Graça e nos cumula de esperança e alegria para darmos continuidade à sua missão libertadora, junto da parcela do Povo de Deus a nós confiado, sobretudo cuidando com carinho especial pelos mais pobres e sofredores, pois, como nos alertou o Beato Papa João Paulo II, há neles algo de Cristo que nos obriga a uma opção preferencial por eles.
10. Caro irmão presbítero, esta nossa carta quer falar diretamente ao seu coração de pastor, renovando seu ardor de discípulo-missionário, e dizendo-lhe que não está sozinho, mas que inúmeros irmãos seus de ministério querem caminhar lado a lado com todo o seu esforço para que Jesus Cristo seja mais conhecido e amado em nosso imenso País.
11. Diretamente do Santuário de Nossa Mãe Aparecida, partilhamos com todos vocês, queridos irmãos presbíteros, as graças e bênçãos de Deus que sobre nós vieram neste local de peregrinação, onde irmãos e irmãs nossos do Brasil inteiro encontram consolo e respostas para suas angústias e saem daqui reabastecidos para viver com fidelidade seus compromissos batismais.
REALINHAR-SE COM O ESPÍRITO DA SAGRADA LITURGIA
NECESSÁRIA E DESAFIANTE TAREFA ECLESIAL
Palestra proferida por Frei Ariovaldo na abertura do Seminário Nacional de Liturgia em Itaici.
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
1. Para pensarmos a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II e entendê-la em profundidade, em meio a seus sucessos e percalços, é bom que estejamos antenados com o que veio antes da reforma, a saber, com o movimento litúrgico. E para entendermos o movimento litúrgico, com seus percalços e sucessos, é bom que estejamos bem antenados com as origens de um grande mal-estar litúrgico que, talvez tarde demais, levou à necessidade de reformas.
2. Mas creio que não caberia aqui falar ex-professo sobre o movimento litúrgico, caindo até no risco de ser repetitivo[1]. Nem vou falar das origens do dito mal-estar litúrgico[2]. Aliás, nem temos tempo pra tudo isso. O que eu quero é partilhar um pouco com vocês sobre algo que está no meu coração e não pára de me incomodar, a partir de minhas pesquisas, sobretudo sobre o movimento litúrgico no Brasil[3]. Refiro-me a elementos sutilmente agarrados no inconsciente coletivo do corpo eclesial como padrão antigo que sempre dificultou e vem dificultando todo o processo de reforma... Mais ou menos como uma pessoa que, num dado momento de sua história pessoal, incorporou padrões de comportamento que a levaram a tornar-se inflexível, autoritária, agressiva, egoísta, vaidosa, ciumenta, irresponsável e até violenta, causando muito sofrimento e dor a si e aos outros; e para voltar a uma equilibrada e sadia convivência social, depois, tem enorme dificuldade em assumir tais padrões como nocivos à sua saúde e à dos outros, e em retornar ao essencial para viver com qualidade de vida. Assim, no corpo eclesial, historicamente foram assimilados padrões de compreensão da liturgia, bem como de comportamento ‘litúrgico’ e ‘espiritual’ que, direta ou indiretamente, não deixaram de ser nocivos à Igreja, ao nosso planeta e à sociedade humana como um todo...
3. Por exemplo (coincidência? penso que não!), foi precisamente no segundo milênio, quando a liturgia se transformou num formal fator clerical, e a grande massa popular, isolada da “fonte primeira e indispensável do espírito cristão” (que é a liturgia!), teve de ‘sobreviver’ (ainda bem!) com o apoio dos mais variados tipos de devoções, foi então que o Ocidente cristão perpetrou os piores desmandos morais e as mais intensas destruições de vidas humanas, em guerras fratricidas, inquisições, perseguições contra não-cristãos, invasões e destruição de terras alheias, escravizações, tiranias opressoras, sangrentas ditaduras... Pensemos no que cristãos (batizados, casados na igreja, freqüentadores de missas, procissões, rezas, novenas etc.!...) fizeram com os índios nesta nossa América Latina e com os escravos negros!... Debilitados pela falta do verdadeiro espírito da liturgia e anestesiados pela cobiça do ouro e a sede de poder, esses cristãos não conseguiram enxergar mais nem a sua própria insanidade torturante!... E como um Bartolomeu de las Casas, por exemplo, exatamente a partir do espírito da celebração da Eucaristia, soube reagir profeticamente contra a insanidade escravizadora, sofrendo como conseqüência a perseguição e a deportação!... Enfim, a alienação do verdadeiro espírito da liturgia levou a tudo isso... Voltar à liturgia, ou melhor ainda, a uma espiritualidade de fato litúrgica, libertadora, agora resgatada pela reforma do concílio Vaticano II, continua a ser o grande desafio, inclusive – arrisco dizer – para a sobrevivência do nosso planeta.
4. Creio que uma tomada de consciência do que está nos bastidores históricos de nosso inconsciente coletivo cristão ocidental, ajude a contribuir para, neste Seminário, conversarmos em profundidade sobre a Sacrosanctum Concilium, em torno de seus eixos principais, eventuais lacunas, dificuldades em sua recepção e, enfim, pensarmos juntos possíveis caminhos ‘terapêuticos’ para sanar padrões ‘litúrgicos’ e ‘espirituais’ distorcidos do inconsciente coletivo em nosso corpo eclesial.
5. “O movimento litúrgico – resume Matías Augé - é um fenômeno eclesial e até mesmo histórico-cultural que afunda suas raízes na época do Iluminismo, tem suas primeiras manifestações tangíveis na renovação do monacato beneditino de Solesmes no século 19 por obra de Dom Prosper Guéranger (1805-1875), entra na sua fase clássica e de expansão com o pontificado de Pio X (1903-1914), para aproar depois nas soleiras do concílio Vaticano II”[4]. Significou a reação paulatina e benéfica a um mal-estar litúrgico que havia tomado conta do corpo eclesial do Ocidente, a partir dos séculos 8 e 9, que se agravou nos séculos 12 a 16 e que perdurou pelos séculos afora. Nem o concílio de Trento conseguiu sanar o mal-estar. E, cá entre nós, até mesmo a reforma do concílio Vaticano II está enfrentando dificuldades na implantação do verdadeiro espírito litúrgico, da liturgia como a verdadeira oração da Igreja, de fato participada por todo povo, primeira e indispensável fonte do verdadeiro espírito cristão. E já se passaram quase 50 anos!... Bem que profetizou o iniciador do movimento litúrgico clássico, Lambert Beaduin, há quase 100 anos atrás: “O trabalho de renovação litúrgica será árduo: é bom se convencer disso; as multidões levaram séculos para desaprender o verdadeiro espírito cristão, contido na liturgia; muito tempo agora será necessário para aprendê-lo de novo”[5].
6. O que quis o movimento litúrgico e, agora, a reforma do concílio Vaticano II? No fundo, resgatar o Essencial na vida cultual da Igreja, Aquilo que está para além de todos os padrões humanos que, no corpo eclesial, acabaram roubando a cena do Espírito que anima este corpo, mas que continuam (como eu disse) agarrados no inconsciente coletivo do nosso corpo eclesial. O que se busca resgatar: a) a divina Liturgia (com maiúsculo) celebrada, isto é, experimentada como Presença libertadora do mistério pascal na ação ritual mesma, sufocada que fora por um frio corpo doutrinal “sobre” Deus e seus mistérios; b) a divina Liturgia (com maiúsculo) celebrada como experiência orante por excelência de cada cristão em particular e de todo povo reunido, fonte primeira e indispensável do verdadeiro espírito cristão, sufocada que fora pelo acúmulo de manifestações piedosas extra-litúrgicas e pelo individualismo religioso; c) a divina Liturgia (com maiúsculo) celebrada como escuta, acolhimento, contemplação, admiração, louvor e ação de graças pelas maravilhas operadas por Deus, sobretudo pelo mistério pascal, presente na própria ação ritual, sufocada que fora pelo desesperado esforço meramente humano de “chegar até Deus” e salvar a própria alma[6].
7. Cem anos de movimento litúrgico... cinquenta anos da Sacrosanctum Concilium, com um mare magnum de publicações em torno do espírito da divina Liturgia (a bibliografia é imensa e as pesquisas ainda continuam!...), versus mil anos de diáspora litúrgica por parte das massas populares e até mesmo das elites eruditas... Mil anos de deserto mistagógico!... É muita coisa, para um curto centenário de retomada do caminho!... Daí se entende a gritante e permanente defasagem existente entre o que um grupo de cristãos, relativamente muito pequeno, veio assimilando e já assimilou do espírito da liturgia resgatado pelo movimento litúrgico ou expresso pelos documentos oficiais da Igreja, e o que uma imensa multidão, a grande massa popular, ainda tem como padrão inconsciente agarrado em seus corpos, em se tratando religião cristã católica com seus rituais. E isso até mesmo entre as elites mais eruditas, fora ou dentro dos quadros da organização eclesiástica. Podemos ilustrar o que eu quero dizer, através de alguns exemplos.
8. De saída, poderíamos evocar a reação pitoresca de um bispo, o bispo de Lérida (Espanha) durante o concílio Vaticano II, quando se sublinhava a importância do culto cristão. Reagiu assim: “Imaginem! Estão chegando ao cúmulo de por a liturgia dentro da missa!”[7]. Faz-me lembrar outro fato pitoresco: um registro do cronista do Convento do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, em 1934, a partir de um contato dos frades com o iniciador do movimento litúrgico no Brasil, o beneditino Dom Martinho Michler... Explico-me: a partir de então próprios frades começaram, cá e lá, a celebrar missas versus populum. Então o cronista deixou registrado que o povo estava gostando das “missas litúrgicas” (sic) que os freis celebravam!
9. Lembro-me também de quando pesquisei sobre o movimento litúrgico no Brasil. Constatei que o que mais me saltou aos olhos foram os violentos conflitos entre duas concepções de espiritualidade: a apaixonante espiritualidade litúrgica, sendo descoberta, e as centenárias espiritualidades devocionais medievais e pós-tridentinas, padronizadoras do tecido cultural da nossa nação brasileira[8]. A partir daí comecei a entender o porquê da fortíssima tendência, existente até hoje, em se repetir inúmeros padrões medievais e pós-tridentinos de comportamento litúrgico e espiritual, não obstante o imenso trabalho já realizado no campo da reforma litúrgica.
10. Por exemplo, a respeito da Eucaristia: No linguajar comum da imprensa brasileira (escrita e falada), como tenho observado inúmeras vezes[9], missa é uma “cerimônia” que se “encomenda” ou se “promove”, seja para “homenagear” alguém (vivo ou falecido), seja para celebrar ou abrilhantar a “memória” de alguma pessoa ou evento importante e, inclusive, para “festejar” e “comemorar” algum aniversário significativo... Uma cerimônia feita por um profissional religioso contratado (padre ou bispo), à qual a gente assiste. Ora, se é que a linguagem da imprensa expressa a cultura de um povo e, no caso, o imaginário religioso de um povo ou, então, o inconsciente coletivo dos católicos do nosso país, missa, para a grande massa popular, continua a ser entendida como sendo isso mesmo!... Esse é o padrão comum de compreensão... Portanto, algo bem longe do que o movimento litúrgico compreendeu e os documentos da Igreja definiram...
11. A problemática é encontrável na própria elaboração do Catecismo da Igreja Católica. Enquanto na primeira sessão (nn. 1066-1209) se trata da celebração da liturgia como “obra da Trindade”, “fonte e ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo fonte donde emana toda a sua força”, na segunda sessão (nn. 1210-1690), quando se trata dos sete sacramentos da Igreja (mormente a Eucaristia!), esquece-se de certa maneira o seu aspecto celebrativo (dimensão mais mistagógica) e privilegiam-se, como “fonte e ápice”, as doutrinas (em moldes escolásticos), as “verdades de fé” sobre eles... Em outras palavras, repete-se neste caso, veladamente, um velho padrão apologético, anti-herético, que é a preocupação acima de tudo doutrinal[10], em prejuízo de uma visão preferentemente mistagógica dos sacramentos!
12. Voltando para a questão da Eucaristia... Há poucos dias, durante 10 minutos ouvi na igreja o relato da listagem de intenções da missa a ser celebrada: intenções por inúmeros falecidos com nomes citados, misturadas com intenções pelas almas em geral, pelas almas do purgatório, intenções de aniversário de falecidos, de um mês, sétimo dia, pelas treze almas benditas, pelo anjo da guarda, em honra de Santo Expedito (e outros santos), pela conversão de N., pela recuperação da saúde de N., em ação de graças pela recuperação da saúde de N., em ação de graças a Santo Antônio por graça alcançada, e assim por diante... uma listagem imensa!... É a compreensão que a grande massa popular tem ainda de celebração da Eucaristia como padrão assimilado... Uma reza, realizada pelo profissional do culto, que a gente “encomenda” numa determinada intenção.
13. Há poucos dias, ainda, conectando-me num canal de televisão católico, deparo-me com uma solene adoração ao Santíssimo Sacramento. Altar cheio de velas. O padre com paramentos suntuosos (capa magna imensa etc.!). Ostensório imponente. Padre orando piedosamente, apaixonadamente, com tanta paixão que, ao microfone e transmitido pela TV, se desdobra numa extensa oração em língua estranha. Tudo tão solene e apaixonante que dá a nítida impressão de que aquele momento eucarístico é muito mais importante que a própria celebração da eucaristia, contrastando com o que nos apresenta a reforma pós-conciliar[11].
14. A reforma conciliar nos resgata que Cristo é o verdadeiro sacerdote que preside e age na ação litúrgica. Em outras palavras, sua presença viva nos sinais (na assembleia, na pessoa do ministro ordenado, na Palavra proclamada, no pão e vinho consagrados, nos sacramentos em geral) é que nos preside. Tal presença foi, nas tradições mais antigas e genuínas da Igreja, re-presentada pelo Cristo pantocrator na abside, ou na forma de cruz pendurada sobre o altar[12], do espaço em que acontece a Eucaristia. E como o Cristo é representado? De olhos abertos! Só este detalhe já nos diz que somos presididos por Alguém que está vivo. Porém, o que ainda vemos em muitos espaços litúrgicos? Lá na frente, às vezes enorme, um Cristo crucificado, desfalecido, olhos fechados, morto. Como que dando-nos esta impressão: Somos presididos por um cadáver!... Esquecemos que aquele que passou pela morte, sim, ele está vivo; e é assim, vivo, que nos preside!... Esquecemos!... Pois é! É um padrão medieval que assimilamos, e não nos damos conta do quanto ele nos limita em termos de mistagogia do espaço litúrgico!
15. Outra questão que ainda continua me intrigando. Antigamente, antes do Vaticano II, quando o sacerdote rezava a missa de costas para o povo (e em latim), o povo cria que o padre estava rezando (orando mesmo!) em estreito e profundo contato com Deus. Na boa fé, pois não via a cara do padre! Sem querer generalizar, é claro! Depois do concílio, voltado para o povo (como devia mesmo ser!), o padre se expõe, mostra a sua cara e, aos poucos, o povo sente como que uma decepção: percebe que na verdade os padres, de maneira geral, não rezavam, mas simplesmente liam um livro, e continuavam lendo o missal do mesmo jeito que antes, no mesmo padrão antigo, mesmo com o texto traduzido para o vernáculo: de maneira formal, mecânica, “no piloto automático”, sem manifestar convicção naquilo que estavam lendo, sobretudo em se tratando da oração eucarística (a oração mais importante!); orações feitas às carreiras e os ritos realizados igualmente de maneira muito formal, de qualquer jeito. Numa palavra: De maneira geral, a oração dos padres e os ritos que realizam não convenciam, pois não manifestavam fé, paixão, entusiasmo, amor... E continuamos assim, de maneira geral ainda hoje, também para os demais atores das celebrações (leitores etc.), repetindo os mesmo padrões antigos... Numa palavra: De maneira geral ainda não se assimilou o espírito da reforma do Concílio Vaticano II. O espírito da reforma não penetrou ainda no sangue, na mente, no coração, no corpo dos agentes das celebrações. Resultado: Porque os atores das celebrações litúrgicas (mormente na missa), sobretudo os principais, não estão qualificados como pessoas de fato orantes em seu agir ritual, continuam a repetir padrões antigos, e não conseguem contribuir para a formação e animação de discípulos e missionários de Jesus Cristo a partir da Liturgia. Pelo contrário, enfadam os participantes das assembleias que, aos poucos, buscam outros ambientes mais “convincentes” que não a Liturgia: nas seitas e em manifestações piedosas mesmo dentro da Igreja Católica, testemunhando inclusive que aí de fato “encontraram Jesus”, “tiveram uma experiência de Deus”. No meu entender, em grande parte, o êxodo dos católicos é motivado pelo não convencimento dos principais atores em seu agir nas celebrações litúrgicas.
16. Entre os evangélicos, para um pastor ser pastor e, portanto, um pregador da Palavra, se investe pesado na sua formação. Eles são rigorosamente formados para ser um bom pregador, que convence, que mostra fé naquilo que prega, que mostra diálogo pessoal com Deus nas suas ações rituais (pregação, oração); além da rigorosa formação técnica para se comunicar com o público. Ora, sabemos que entre nós, católicos, além da pregação da Palavra, privilegiamos também a ritualidade, a sacramentalidade da Liturgia como expressão do mistério salvador. Privilegiamos a ritualidade como lugar de especial de experiência de encontro do Mestre conosco, a ritualidade como lugar de experiência de Deus. É nossa tradição cristã que, em grande parte, herdamos da tradição hebraica. Só que isso, por falta de qualificação dos nossos agentes celebrativos para a ritualidade (em seu sentido teológico, espiritual, pascal e sócio-transformador), o povo não consegue saborear o mistério presente nos ritos. Resultado, em termos de ritualidade, mais que a Liturgia, o povo “escapa” e vai valorizar mais as devoções (ao Santíssimo Sacramento, aos Santos etc.). Outros tantos, e são milhares, testemunham que “encontram Jesus” ouvindo a pregação convincente do pastor evangélico e participando de manifestações orantes mais convincentes ainda, coisa que normalmente não acontece ainda de maneira satisfatória nas celebrações litúrgicas católicas...
17. O povo é por natureza orante. Vai para as igrejas para ter um encontro com Deus, ouvir Deus falar, sentir Deus falando... Ora, se nos próprios ministros, no exercício de suas funções, não se nota este “encontro deles com o mistério”, vai ser muito difícil para uma assembleia, com este tremendo “ruído” à sua frente, fazer a experiência de um encontro verdadeiro com o Mestre que nos chama para a missão!
18. Lembro-me do que Bento XVI disse em seu discurso aos bispos do Brasil: que “a celebração eucarística é a melhor escola da fé”. E no discurso de abertura da V Conferência, o papa chama a atenção que “a assistência dos pais com seus filhos à celebração eucarística dominical é uma pedagogia eficaz para comunicar a fé e um estreito vínculo que mantém a unidade entre eles”. E depois diz: “O encontro com Cristo na Eucaristia suscita o compromisso da evangelização e o impulso à solidariedade; desperta no cristão o forte desejo de anunciar o Evangelho o testemunhá-lo à sociedade para que seja mais justa e fraterna....”. Como já se insistiu ultimamente sobre a ars celebrandi da Sagrada Liturgia![13] No entanto, eu me pergunto, da forma como as celebrações eucarísticas são normalmente presididas ou ritualizadas (como referi acima), como vai ser possível realizar isso que o papa afirma?
19.Enfim, uma última observação: Medellín, Puebla e Santo Domingo, se debruçaram sobre a importância da Liturgia na evangelização e vida cristã. Medellín e Puebla tratam especificamente da Liturgia em capítulo especial, inclusive com diagnóstico sobre a situação das celebrações no continente. Santo Domingo já nem tanto. E Aparecida? Lamentavelmente a liturgia não ocupa o lugar que deveria no seu Documento final. Contentou-se apenas com um parágrafo, inserido na última hora, na hora da aprovação final do documento. Fala-se da Eucaristia, há parágrafos sobre os sacramentos, mas, faltou a necessária ênfase à Liturgia como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo e de formação de discípulos e missionários para que nele nossos povos tenham vida. Sem dúvida, essa é uma das maiores lacunas (se não a maior) do Documento de Aparecida[14]. Acha-se que a metodologia de trabalho adotada na Assembleia é que prejudicou. Será mesmo? Será que a liturgia é tão sem importância assim, a ponto de sua abordagem ser comprometida por uma metodologia de trabalho? Ou não foi um inconsciente coletivo ainda um tanto limitado em relação ao espírito liturgia a causa de tal prejuízo?
20. Um último sentimento meu a partilhar. A Sacrosanctum Concilium é insistente no tocante à formação litúrgica. E com razão. De fato, a meu ver, por causa de uma formação litúrgica ainda deficiente e sem cunho mistagógico, aliada a certo poder “deformador” da mídia, corremos o risco de continuarmos no espírito cultual da cristandade medieval e pós-tridentina, com alguma tintura moderna apenas, mas longe do Espírito do Senhor, longe do centro da nossa fé (do mistério pascal de Jesus Cristo que nos empenha a um compromisso comunitário na vivência da fé). Corremos o risco de continuarmos a dar mais importância à “presença real”, às devoções ao Santíssimo Sacramento, do que à Eucaristia como celebração memorial do sacrifício pascal de Cristo que nos libertou e continua nos libertando. Corremos o risco de continuarmos a ver a missa apenas como “remédio que cura”, como se a celebração eucarística não fosse já a presença da salvação; ou como “coisa de padre” que se encomenda para ‘homenagear’ pessoas (vivos ou defuntos) e destacar eventos sociais, e não como ação comunitária participada por todos; ou como show para ser piedosa e entusiasticamente assistido, e não como ceia pascal dos cristãos em clima tranquilo de ação de graças. Corremos o risco de ver os sacramentos apenas como “remédio” (uma espécie de “vacina” contra os males), e não como celebração da Páscoa que nos libertou da raiz de todos os males. Corremos o risco de continuarmos com uma religião clerical, individualista, mágica e puramente devocional, sem compromisso comunitário, distante do projeto de Jesus Cristo. Sem formação litúrgica, e de cunho mistagógico, corremos o risco de vermos de certa maneira comprometida a reforma do Concílio Vaticano II.
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