Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Divulgada carta do 14º Encontro Nacional de Presbíteros


Carta do 14º. Encontro Nacional de PresbíterosTema: A identidade e a espiritualidade do Presbítero, no processo de mudança de época.Lema: “Escolhido entre os homens e constituído em favor da humanidade” (Hb 5,1)

Estimado Irmão Presbítero!

1. Debaixo do manto de nossa Mãe Aparecida, Padroeira do Brasil, nós, 409 presbíteros, representando os aproximadamente 22 mil padres, distribuídos por todo o território nacional, nos reunimos durante os dias 1º. a 7 de fevereiro, para refletir sobre nossa identidade e espiritualidade, sob o impacto da mudança de época que vivemos. Cremos que formamos um aspecto bastante significativo do rosto do presbítero brasileiro. Quanto à idade: 31 irmãos com menos de 30; 172 entre 31 e 40; 123 entre os 41 e 50; 65 entre os 51 e 60; 16 entre os 61 e 70 e 2 acima dos 70 anos. Quanto ao tempo de ordenação: até 5 anos, 123; de 6 a 10, 93; de 11 a 20, 112; de 21 a 30, 64; acima de 30, 17 presbíteros.
2. Dentre os elementos que marcam a mudança de época, o maior de todos, que tem impulsionado todos os outros, é o que ocorreu com o ser humano. Ele descobriu a autonomia do universo e, com isso, sua própria autonomia. Este é o maior sinal dos tempos. O presbítero, como qualquer outro cidadão pós-moderno, não aceita mais que sua identidade venha definida e determinada de fora, como que imposta externamente. Por outro lado, nem sempre se sente capaz de aceitar os desafios de construir sua própria identidade. Assim, uns se refugiam em modelos antigos, com a roupagem nova da tendência devocionista e emocionalista, estética e de grande visibilidade, que lhes emprestam segurança, embora na maioria das vezes não consigam esconder o constrangimento por tal opção. Sabem que a sociedade os questiona quanto às suas motivações mais profundas. Outros, apesar de certa insegurança, assumem o processo desafiador de redefinições permanentes de sua identidade, na perspectiva de responder às demandas que lhes vêm de múltiplos ambientes e situações. Há, ainda, os que não optaram nem pelo modelo clássico do passado e nem se aventuraram a redefinir sua identidade. Simplesmente seguem no ministério um tanto indiferentes às problemáticas atuais que envolvem sua vida.
3. Destacamos, ainda, a tensão entre um modelo idealizado, proposto pela instituição e o real de cada presbítero. E sob a égide da cultura pós-moderna, constatamos um aspecto novo dessa tensão: a fragmentação da identidade presbiteral e a exacerbação crescente da autonomia, da subjetividade e da dimensão existencial. Com essa moldura, confrontamos os dois milênios cristãos, numa ordem teológica e não cronológica, em que se configuraram predominantemente dois modelos de presbíteros: um entendido na perspectiva pneumatológica-eclesial e outro sob o prisma cristológico-individualista. Com alegria, vemos que o modelo que quer superar essa tensão, abrindo-se à ação do Espírito, à centralidade da Palavra, à qualificação pessoal, à misericórdia nos relacionamentos e à profecia no trabalho evangelizador vem se impondo entre nós. Todos esses elementos dão os novos contornos do debate sobre a identidade presbiteral e que está a exigir de todos nós novas respostas.
4. Da riqueza das reflexões sobre a identidade do presbítero, saímos do 14º. ENP convencidos de que não colocamos um ponto final no debate. Pelo contrário, aumentamos as interrogações que nos servem de pistas, que alimentarão a continuidade de nossa busca em nossas comunidades eclesiais, em nossos presbitérios e no dia-a-dia do exercício do nosso ministério: Quem sou? O que me motiva e define? Como me posiciono no mundo? Que valores e objetivos me orientam? Que forças movem meus sentimentos, minhas ideias, minhas opções de fundo? Onde estão as certezas que dão fundamentação e rumo à minha ação? Quais as ambiguidades, as penumbras, os conflitos que tornam pesado o meu existir? Quem é “outro” para mim? Quem é meu interlocutor, meu companheiro? A quem amo? Para quem e para que existo? Que sentido dou à minha vida? O que é para mim história e tempo? Com que me identifico? Que transcendência a experiência me ensinou a assumir como realidade última? Quem é o Deus em quem acredito?
5. Percebemos a profunda inter-relação que há entre identidade e espiritualidade. Na busca da definição de uma delas, a outra vem quase que automaticamente, pois na vida do presbítero ambas se entrelaçam. Constatamos, ainda, que ambas são processuais e que exigem uma postura de conversão profunda e perseverante não só de cada presbítero, mas igualmente da comunidade eclesial na qual estamos inseridos.
6. Emergiram em nosso encontro características fundamentais do processo de crescimento espiritual: centralidade da Palavra de Deus e na Eucaristia, encontro pessoal com Jesus Cristo, sensibilidade aos sinais dos tempos e discernimentos dos acontecimentos da vida, necessidade de conhecer a pessoa humana para poder conhecer a Deus, comunhão solidária, cuidado de si e dos outros, oração articulada com o cotidiano do ministério, serviço ao povo pela caridade pastoral, disponibilidade missionária, missão profética, vida na e da gratuidade, sacrifício e cruz como constituintes da espiritualidade do presbítero e, por fim, sentimos a urgência de fazer de todo esse processo uma busca da santidade, com destemor e alegria, testemunhando que somos felizes em nosso ministério.
7. Durante todo o 14º. ENP fomos apoiados por inúmeras manifestações de solidariedade de Bispos que acompanham nossa caminhada, tais como os que se fizeram presentes: Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, Dom Jaime Vieira Rocha, Arcebispo nomeado de Natal, Dom Antonio Cavuto, Bispo de Itapipoca, Dom Zanoni Demettino Castro, Bispo de São Mateus, Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo de Formosa, Dom Jaime Spengler, Bispo-Auxiliar de Porto Alegre, Dom Nelson Francelino, Bispo-auxiliar do Rio de Janeiro; os que enviaram suas mensagens: Dom Esmeraldo Barreto, Arcebispo nomeado de Porto Velho, Dom Odilo Scherer, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, Dom Cristiano Kraft, Bispo de Jequié, Dom Guilherme Werlang, Bispo de Ipameri, Dom Alfredo Schaffler, Bispo de Parnaíba, Dom Antonino Migliore, Bispo de Coxim, Dom José Moreira, Bispo de Januária, Dom Eduardo Pinheiro, Bispo-Auxiliar de Campo Grande e referencial da Juventude. E para o nosso retiro espiritual tivemos as reflexões de Dom Dominique Marie Jean Denis You, Bispo de Conceição do Araguaia que, partindo do texto de Neemias, nos ajudou a refletir sobre nossa liderança, os obstáculos de nossa missão e as frestas que precisamos saber explorá-las. Entre nós esteve com sua presença amiga o Diácono Zeno Konzen, Presidente da Comissão dos Diáconos Permanentes. Fomos ajudados pelas colocações dos nossos assessores: Pe. Jésus Benedito dos Santos e Pe. Manoel Godoy. Contamos, sobretudo, com as orações do Povo de Deus presente em nossas comunidades, que aguarda nossa volta, esperançosos de que retornemos com os ânimos renovados, para darmos continuidade ao processo evangelizador.
8. Os desafios da cultura pós-moderna, os nossos limites pessoais, os medos e as inseguranças, a extensão e profundidade de nossa missão e as inúmeras incompreensões que experimentamos como presbíteros não nos afugentam e nem nos paralisam, antes, nos colocam em pé de testemunho, cheios de entusiasmo, não daquele entusiasmo fácil e adolescencial, porque confiamos que nosso ministério, embora dependa do esforço de cada um de nós, conta com a assistência permanente da Graça de Deus. Mergulhados nela e por ela exercemos nossa missão evangelizadora, convencidos de que nosso ministério só pode ser vivido coletivamente, em profunda comunhão com nossos presbitérios. Além disso, no Continente Latino Americano, nosso ministério recebe as bênçãos e graças de nossos irmãos mártires, presbíteros, leigos e leigas que, por amor a Jesus de Nazaré, o Cristo, e pelo Reino, entregaram suas vidas, banhando nosso chão com seu sangue e fazendo germinar sementes proféticas de esperança para toda a comunidade eclesial.
9. Quer sejamos jovens ou idosos, estrangeiros ou autóctones, religiosos ou diocesanos, párocos, vigários paroquiais ou formadores, enfim, em qualquer situação e modalidade em que exercemos nosso ministério é o mesmo amor incondicional a Jesus Cristo que nos leva a crer que nossa configuração a Ele nos enche de sua Graça e nos cumula de esperança e alegria para darmos continuidade à sua missão libertadora, junto da parcela do Povo de Deus a nós confiado, sobretudo cuidando com carinho especial pelos mais pobres e sofredores, pois, como nos alertou o Beato Papa João Paulo II, há neles algo de Cristo que nos obriga a uma opção preferencial por eles.
10. Caro irmão presbítero, esta nossa carta quer falar diretamente ao seu coração de pastor, renovando seu ardor de discípulo-missionário, e dizendo-lhe que não está sozinho, mas que inúmeros irmãos seus de ministério querem caminhar lado a lado com todo o seu esforço para que Jesus Cristo seja mais conhecido e amado em nosso imenso País.
11. Diretamente do Santuário de Nossa Mãe Aparecida, partilhamos com todos vocês, queridos irmãos presbíteros, as graças e bênçãos de Deus que sobre nós vieram neste local de peregrinação, onde irmãos e irmãs nossos do Brasil inteiro encontram consolo e respostas para suas angústias e saem daqui reabastecidos para viver com fidelidade seus compromissos batismais.



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